Fico em frente ao computador, enquanto meu pai se intriga com as cenas de Rambo I. Escuto o barulho dos tiros de mais um filme de James Cameron, antes da consagração de Avatar (lê-se coisinhas azuis com tomadas no cabelo).
Estou entediado e cheio de coisas para fazer. Uma péssima combinação, já que "estar entediado" geralmente significa que você não tem nada para fazer.
Pensando bem, meus sintomas estão mais para uma preguiça. Não que eu seja um bicho peludo preso em uma árvore levando o tempo médio de algumas horas só para se coçar. Até porque, eu me coço em menos tempo do que isso. Enfim, eu não sou uma preguiça! Se bem que ter garras grandes para se coçar deve ser bem útil, não?! Mas não era isso que estava me referindo; E sim da preguiça. Não o Bicho- Preguiça, mas a minha.
(Ufa!!! Minha mente ansa, viu!)
Deixe-me explicar o porquê da minha preguiça...
Imagine, que você tenha dois pré - projetos científicos (eu não disse um , ou, um e meio, e sim dois!), quatro livros técnicos (eu não disse três, ou, dois e meio, e sim quatro!) para terminar. Tudo isso no prazo de uma semana.
Pode dizer que você está com muita dó de mim. Se eu não fosse eu mesmo, também estaria.
Mas, o pior não é isso. Não são os livros, e os projetos (isso um energético em doses cavalares com taurina resolve). Também não são os malditos trabalhos em grupo, e as diferenças intelectuais, culturais e tantas outras coisas. Que fazem você ter uma enorme vontade de guardar uma espada de lamina larga na mochila (não me perguntem como espadas de lamina larga caberia dentro de uma mochila, elas apenas cabem. Do mesmo modo que uma jiboia pode engolir um elefante. Ou, você nunca leu o Pequeno Príncipe?). E assim, conseguir esquartejar algumas pessoas que o te tiram do sério pelo péssimo hábito de implicarem com algo sem fundamento. Mas o problema também não é esse.. Já que, a gente releva coisas assim com uma, ou, duas cervejas. (Convenhamos vai?! A tudo Baco cura. Mas beba com moderação).
Acabei de me lembrar! Eu odeio relatar meu dia assim, em primeira pessoa. Mas preciso relatar o motivo do meu desprazer presente, que antes era preguiça, e agora é indignação (e olha que eu nem tô pensando em política!).
Bom, exatamente há uma semana atrás, fui ao dentista, ou, melhor a dentista (lê-se animal de teta peluda pior do que a preguiça descrita acima). Estava eu lá, feliz e contente, lendo a revista “Veja“ e me deparando com anúncios que um dia ei de veicular ali. Quando escuto uma voz se destacando dos barulhos das pessoas e dos telefonemas recém atendidos da clínica:
—Cléber Elias!
Me perguntei mentalmente naquele exato momento: "Porque, ora merda, alguém em sã consciência nunca consegue distinguir que Elias (lê-se profeta porreta metedor de fogo do monte Carmelo, o qual meu sobrenome foi atribuído) não é um nome composto do tipo: “Maria Cecília”, ou “Luiz Gustavo”.
Olhei para dentista, e foi nesse momento que expressei um olhar que até os mais céticos poderiam definir como , a cólera de Deus depois do dilúvio, ou melhor, do Tsunami (já que Tsunamis estão em alta agora, piadinha sem graça, desculpem-me.). Tudo bem, não foi um olhar tão drástico assim, mas deveria ter sido com essa intenção.
Continuando...
Mesmo injuriado pelo “Elias” (não o profeta, e sim o sobrenome) acompanhei a dentista até sua sala. Deitado com um aparelho sugando minha saliva, ela me sufocava com algodões no céu da boca.
—Olha vou começar a obturação se doer você diz, ta bom?
Perguntou àquele sábio ser inteligente. Que sabia usar muito bem a comunicação. Eu que estava impossibilitado de dizer qualquer coisa senão um:
—Ataboruaeaew!
E foi o que eu respondi.
Como a dentista não era fluente no idioma "daqueles que possuem quase um quilo de algodão na boca", também conhecido “Algodãones”, ligou a broca perfurando o dente direito Pré-Molar Superior.
Claro que só fiquei sabendo o nome técnico do dente depois dessa maldita consulta. Naquele momento a única coisa que saiu da minha boca (além de algodões expelidos e baba) foi alguma coisa do tipo:
—AHHHHHIIIIIIHHHH!!!!!
Mas o que eu queria dizer mesmo era: “Sua fêmea de teta peluda! Que é pior do que a preguiça descrita no começo do texto e citada duas vezes!”.
Porém, não consegui ser muito específico.
A dentista vendo minha cara de dor, pressentiu que se ligasse a maldita broca outra vez, sem tomar alguma providência, acabaria na terceira pagina do jornal local como vítima de um paciente injuriado. Que atirou um litro de anti-séptico bucal em sua cabeça.
Foi então, que ela resolveu o brilhante problema aplicando uma grande seringa na minha gengiva (a qual doeu pra diabo) anestesiando minha boca, meu queixo.
Senti a impressão que estava com o beiço maior do que do Obama.
Com mais brocas e saturação fui liberado do consultório. Então, falando mole e com parte da boca inteira anestesiada tive que ir até a biblioteca da faculdade pegar alguns livros, demorou alguns minutos para a bibliotecária entender que eu falava "Carrascosa" invés de "Terracota".
Mas o pior mesmo mesmo foi a fome, pois ainda tive que esperar uma hora (por ordem da dentista) para poder comer alguma coisa.
Agora, imaginem passar por tudo isto. E hoje, véspera de quase uma semana do acontecido, o meu dente (recém tratado) começar a doer novamente.
E pior, analisem minha teoria da mastigação: Se você mastiga normalmente com todos os teus dentes ótimos e bem escovados nada acontece (é obvio). Agora, quando um desses dentes acaba doendo pra caralho, (desculpem os tradicionalistas) automaticamente você vai levar o alimento que precisa ser mastigado para o outro lado da boca, para que assim, os outros dentes mastiguem. Certo? Então, o que acontece? A outra parte dos teus dentes ficam com excesso de trabalho e começam a doer também. Ou seja, meus dois dentes pré-molares estão com problemas agora.
Mas a dentista não perde por esperar; vou amaldiçoar ela com todo meu sangue cigano húngaro (que nem é tanto assim, mas se fosse ela iria ver só!).
Conclusão da minha situação:
-Meu dente dói;
- Meu pai assiste a um filme de guerra;
- A dentista está lá, linda em sua balada de sexta feira;
-E eu amo minha vida. (Só que não).
Um último aviso, quando você for ao dentista, e ela tiver cabelos castanhos e começar a conversar com outra dentista sobre "desenhinhos" nas unhas, especificando o quão está preocupada com o horário na manicure, tudo isso enquanto verifica os seus dentes. Estranhe. Reze. Corra!
Ela pode ser uma psicopata dental e acabar com o seu pré-molar superior.