sexta-feira, 6 de março de 2009

Bookends


Aquele era um tempo, e que tempo era aquele,
Um tempo de inocência, um tempo de confidências.
Deve ter sido há muito tempo, eu tenho uma fotografia
Preserve suas memórias, elas são tudo que restam de você.

“Bookends( Simon and Garfunkel)”

Passo o dia olhando para o espelho, vejo muitas espinhas onde nada continha. È certo que algo mudou entre tantos pigmentos de castanho claro.
È certo que algo mudou nos móveis que guardo dentro dessas paredes carcomidas.
A televisão permanece desligada, o vídeo amontoa poeira do quintal. O violão permanece imóvel num canto na parede. Deixado ali, esquecido entre acordes fáceis que tentei aprender quando dezesseis era apenas uma promessa. Algo mudou, mas eu não sei o que é... Meu cabelo está arrepiado meio crespo, meio encaracolado. Não sei dizer, mas este rosto não é meu... Este rosto não sou eu!

Meus diplomas adoecem em pastas em cima do guarda roupa. Títulos, e provações que no fim não importam em nada. Eu tenho uma caixa, e nela guardo cartas e folhas de cadernos desenhadas. Ela permanece fechada em algum lugar em baixo da cama. Lá estão minhas memórias, meus discos antigos e um retrato do que foi um romance distante. Eu não deveria colecionar mágoas, afinal tudo passa e nada se guarda, não é mesmo? O passado foi virado, o futuro está longe e o presente, bem, ele é o hoje. É o agora, quando agora se tem.

Mesmo assim eu gosto de recordar, talvez seja masoquismo de uma época esquecida. O modo sensível de alfinetar os olhos disparando lamentações. Talvez seja apenas saudade, dessas que apunhalam pelas costas. Não importa o que todos digam, dizer adeus é camuflado, ninguém está pronto para uma despedida. E quando ela acontece. A gente se apega nas fotos, limita a memória em músicas, desperta a lembrança em anseios... Fotografias na verdade não servem pra nada. Mesmo rasgadas elas ainda germinam dentro da memória.

Eu ainda não sei se aquele sou eu... Pode ser um estranho qualquer. Alguém que se apossou dos risos, daquela expectativa de estar apaixonado. Sabendo que aquele cheiro de neblina invadindo o quarto, jamais aconteceu. E que se lembrar das noites ciganas olhando a lua, foram sonhos de calendários agora grifados. Meus pulsos sangram quando sinto que jamais sentirei como me sentia.

Não! É impossível ser esse cara, este olhar de abandono. È impossível acreditar que tais fotografias não passaram de momentos e que tudo está morto enterrado ali, naquela caixa de memórias.

Fiz meu cemitério embaixo da cama... A única lapide que constam datas e finalizações. Eu me esqueci... Acabei me esquecendo. Quando atirei aquelas folhas no fogo... Quando embebi em álcool todas as imagens. Paguei o preço apagando a mim mesmo...

E agora vivo como um estranho, um recém nascido sem memória... Me apaguei apagando você de mim.