sexta-feira, 24 de julho de 2009

Vide-c


Você que observa os cânticos na igreja... Que anda no transito lento almejando em ser o que nunca será.

Você que vaga no quarto, se deita na cama decidido a morrer... Você! Você! Você.

Que transa com desconhecidos, coleciona corações de vidro... Que já perdeu alguém e agora vela por espíritos. Você que se dedicou tanto e enxergou tudo arruinado na véspera do último feriado.

Você! Você! Vocês...

Que escuta música alta para esconder uma alma vazia. Que esconde cólera por nunca ter baleado amor. Você que culpa a todos e nunca a si mesmo.

Você que não aceita que errou e se levanta do leito sabendo que chorou. Você que tem o nome rabiscado que segue as palavras idiotas de um mundo perfeito... E não acredita no diabo.

Você!

Que sacrifica vegetais, e se senta com animais na mesa do jantar. Que toma suco de pêra e deixa a porta da geladeira aberta. Que gosta de cenouras, mas não come quiabo. Que sonha em ser ator e usa uma máscara cênica de varejo.
Você!Você! vocês...

Que se masturba embaixo da cama... Que se enfurece por não ter genitália, que anda de um lado pro outro e se conturba por perder seu pijama.

Você! Você! Vocês...

Que mente em terceira pessoa... Que espera por um namoro raro, que se sente perdido por ter fracassado. Você que anda lado a lado, contando qualquer espaço sentido o torso transpassado lamentando não ter sido...

Você!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Belas Verdades


Relógio o desperta. Nove horas carros passam a eletricidade urbana desencadeia vida. Mal humor do homem grisalho. Impaciência do contador de custos. Um avião cai, pessoas morrem. Corpos alagados de tanta água salgada. Ume menina de cinco anos sobrevive, milagre? Ou maldição de estar em meio aos corpos podres dos próprios pais?

O relógio o desperta, nove horas e a sensação de peso grita entre seu espírito. O IPI está baixo, o povo cego e os carros avantajados. Analfabetos na fila do pão. Deus está morto pelos livros científicos. O macaco é adão, e o éden é uma casa de mulheres banguelas que aceitam vale transporte em troca de um bom sexo. Camisinhas estouram, garotas jovens engravidam por rasgarem demais.

O relógio o desperta... Nove horas! A menininha de cabelos cacheados se faz de esperta. A TV comercializa crianças por audiência. Inocência em baixa. Neverland é louvado por flores. Pedofilia em alta. Estupro e o vaticano coexistem numa mesma frase: Padres consomem crianças em baixo da batina.

O relógio o desperta, nove horas. Sociedade interrupta, robôs que brincam com a humanidade. Porcelanas em cacos retalhados no lixão, pessoas passam fome. Satisfação completa do homem gordo no rodízio, vacas, bois e porcos. Consumidos! Enlatados e fritos! A áfrica não fica muito longe daquela esquina de papelão.

O relógio o faz dormir. O estrume é encoberto por lavanda e o som alto diminuído por cantos de pássaros alpinos. Belas verdades, fator nosso de negação.

domingo, 12 de julho de 2009

BR 8




A neblina mancha o para brisa do carro, meu rosto oscila na sombra do vidro. Nas arestas das gotas, avanço para um dilúvio cristalino. Todas as minhas tristezas escorrem pelo retrovisor. Arvores passam diante minha visão, distantes do meu toque, perto do meu coração.

O rádio desencadeia músicas antigas de um rock imortal.


Acelerador? Esta nos meus pulsos, acelera na medida em que abraço a estrada! Deixo o passado de lado embarcando num destino de bilhões de possibilidades. O tempo não existe, ele se espalha na quilometragem de cada placa. Tempo é passageiro desses que ficam só de passagem e somem na primeira alvorada assim que o sol nasce.


Transito por várias paisagens, dessas que arrancam nossas emoções e nos moldam a carne aumentando o anseio da estação atual. Cada fuligem de outono, cada nascer de primavera... Estações me lembram gente, até mesmo algumas que quero esquecer.
Se pudesse vivia tudo num dia só... Isolamentos de inverno, apego intenso de um verão disperso. Tudo isso emoldurado nessa paisagem de outono.
Estrada para aqueles que não possuem asas.

O volante desliza em minhas mãos, as curvas condizem em paisagens novas. Voar no asfalto em sessenta por hora. O horizonte diminui num raio laranja, o sol se despede da estrada. Woodstock está longe de mim, presa num tempo que não vivi.


A estrada consome minha saudade... Aquela da infância que vendi. De pessoas que fugi.
Estrada que me faz fugir.


Estende-se em sua faixa negra. interminável viagem para qualquer lugar.


Longe de todo mundo, das nuvens, do mar. Longe mesmo, bem longe assim...


Longe até mesmo de mim.