domingo, 30 de novembro de 2008

Crônicas De Mim Mesmo "Num Dia Como Outro Qualquer"


Movo meu corpo puxo o edredom, nesse exato momento estou dormindo. Acho que estou num sono pesado... aqueles cuja expressão popular é: “mais apagado que defunto”. Viajo entre as sete esferas, quando escuto o celular tocando. Reviro algumas vezes na cama pensando que a vida de largado não é tão ruim assim. Lembro que meus olhos pregaram às oito da manhã, depois de uma madrugada colada na difícil tarefa de finalizar a mensagem num manuscrito. "Droga!!!
"Penso comigo, quando o barulho finalmente me desperta.
"Não se pode tirar um dia de largado sem que o mundo saiba de sua existência?" Caminho procurando incessantemente pelo maldito celular crendo que duendes realmente existem, porém não são tão afáveis como as lendas retratam.. Na minha opinião duendes são gatunos de mão cheia. Nada místicos, pelo contrário, são aliados ao governo no setor de saque a pessoas lesadas. Pegam celulares, agendas, livros e até objetos maiores como note books, com uma única finalidade: leiloar todos esses objetos perdidos no mercado mitológico chinês! Acredite, existem mais duendes do que sua vã filosofia pressupõe!!!
Depois de alguns segundos vasculhando da cama até o chão, tentando definir onde diabos "guardei" o maldito celular... Avisto uma luz vinda do guarda roupa! Não há outra explicação, parece que o duende se esqueceu de levar o celular. Desviando das folhas, roupas, livros e tudo mais que cobre o chão do meu quarto, puxo a gaveta do guarda roupa... Um espanto! E me pergunto o que o celular faz na gaveta de meias?
–Alo!—Digo, atendendo a chamada. Tentando esconder a vontade falar:
Mas que porra! Será que não posso fingir que sou um vagabundo por um dia. 
Alguns segundos de silêncio se passam, será que a máfia russa descobriu minha identidade secreta? Se for isso estarei eliminado antes do almoço...
—Vai ter jogo hoje? — pergunta a voz. Que agora me parece mais familiar, e para o meu alivio sem nenhum sotaque russo!
“Ufa!” reflito aliviado comigo, meu codinome “Clebervasks” está seguro!
—Caralho! Cleber? Você Dormiu de novo?
A expressão me levou a identidade do individuo.
—Biro! Então é você— Biro que na verdade é André! È o desgraçado que sempre me acordou com toques polifônicos depois das onze.
—Quem você pensou que era? Seu babaca!
—A máfia Russa!
—È! Você ainda está dormindo... Queria saber se vai rolar jogo hoje?
Rolar jogo seria na linguagem “Biriana” (também conhecida como dialeto dos Ogros) se haveria naquele momento um jogo de RPG ou “jogo de interpretação de Personagens”(Vide Wikipédia jogos de RPG). Muito comum entre, loucos,nerds e pré historiadores.
—Não! Tenho que terminar uns negócios aqui em casa.
Respondo, querendo saber por que as pessoas se viciam em meios de lazer tão comuns? RPG é um lazer como outro qualquer. Òtimo para o desenvolvimento intelectual, mas com o péssimo valor de fugir da realidade por alguns minutos! È uma pena que alguns jogadores se deixem levar tanto por um jogo...
—Beleza!
Finalizou ele com a voz meio abatida. Diariamente eu tinha que agüentar o vicio de alguns amigos pelo RPG. Às vezes (na maioria delas) eu nem estava com vontade de jogar e mesmo assim o fazia. Sabendo que é necessário para alguns essa fuga do meio. Porém minhas responsabilidades seguiam para finalizar aquela carta. Afinal eu havia prometido a ela!
Havia prometido que responderia a carta, mas fui deixando até ao último badalar, empurrando com a barriga até o ultimo dia da semana.
Naquele momento liguei o som num volume com que pudesse fazer as janelas tremerem.
Som para poder gritar, berrar com o refrão mais forte. Concordando com a estrofe que dizia algo como: Gritar até o ponto que a vizinhança ouvisse tua voz.
È ,eu gritei, mas quando olhei para porta, bem! Não era a vizinhança... Pelo contrário, eram olhos aterrorizantes numa mistura de castanho claro emoldurados em lentes de vidro embaçadas. Acredite, os piratas antigos temeriam ao olhar dentro daqueles olhos esmorecidos!
Temendo o olhar percebi que não cantava mais, o som desaparecera! Até que a dona dos olhos de vidro disse calmamente como se o som não existisse:
— Você por acaso é surdo? Pra que um som nessa altura?
A típica fala de minha mãe, cheia de interrogações! È ela a dona dos olhos de vidro. A única que chegava de surpresa inesperada, cheia expressões peculiares. O único modo de chamar minha atenção, talvez.
— Sério! Pensei que estávamos numa festa, dai pensei em agitar o esqueleto o que você acha?
Respondi dançando no modo desajeitado que somente duas coisas eram capazes de induzir: café, amor e euforia! Eu sabia que mesmo sendo uma dança forçada abriria um riso naquela face materna. E foi o que aconteceu, depois de alguns minutos pensando como fora "criar um filho tão insano" ela riu e seguiu em direção ao corredor sem dizer mais nada. Depois disso abaixei o som (ou pensei ter abaixado) peguei as folhas que estavam em baixo de alguns cadernos no chão e fechei a porta. Meus olhos passaram de relance pelos titulos dos livros, mas somente um me fitou a carne. Dizia com um cupido desenhado na capa: “O amor nos tempos do cólera”.
Fantasmas entraram pela janela naquele momento. Pensei nas palavras antigas do passado enquanto “Iris” saia das caixas de som e me visitava na cama. Olhei para o teto enquanto sentia aquelas frases acariciando minha face. De alguma forma minhas palavras saiam pra dentro, sem fala alguma... “Iris” dialogando com meu coração! Dizendo: "Pegue está frase... Pegue essa canção. Pois neste momento ela é sua, mais do que jamais foi "
As frases oscilavam: “Tudo que eu sinto é este momento, tudo que eu respiro é a sua vida”.
Eu rodopiava em cenas angustiantes enquanto as falas traduziam o que meus olhos negavam em transparecer. Íris que me cegava aos poucos! Acabando pouco a pouco com os meus sonhos... Os quais achei que era real.
— Cleber?
Alguém me chamava na porta...
Voltei para realidade do quarto bagunçado. O nanquim ainda estava ali intacto, o vento balançava o pingente da janela. Tive a impressão que os fantasma haviam ido embora. Afinal algo sempre levava meus fantasmas, no entanto uma hora ou outra eles estavam de volta!
Abri a porta me deparando com meu pai... Avisou ele num tom grave parecido com meu:
— O Gil ta ai.
— Tudo bem? Fala pra ele que eu já vou.
Respondi. E compreendendo a mensagem ele seguiu em silêncio.
Meu pai, parte Tupã e outra John Waine... Cara fechada, modo silencioso de andar e fala interrupta. Sim! Meu pai era mistura tipíca de cowboy de western com a fisionomia de Indio Brasileiro! Portador do coração mais terno que já distingui numa pessoa. Entretanto quem o conhecesse a primeira vista teria outra impressão... A impressão que ele esmigalharia seu fígado e comeria no almoço. Era o que a face dele dizia num primeiro contato! Pois assim que meu pai abrisse a boca ou sorrisse seu coração falaria mais forte. Talvez fosse por este motivo de alma afável que as crianças o cercavam frenquentemente. Mesmo com estilo de justiceiro solitário que tentava aparentar, as crianças o encaravam como um personagem lúdico de algum mundo distante. Enxergavam a alma doce que ele tanto tentava esconder, sempre sorrindo...
—Meu pai—Disse olhando o meu reflexo no espelho— Simplesmente essas sobrancelhas gigantes pertencem a ele. Isso deve ser o que dizem sobre ter uma herança genética!
Deixei o espelho de lado e segui em direção ao corredor, fui até a cozinha onde avistei minha mãe na área de serviços, calçando suas famosas botas de borracha azul.
— Seus porcos! Como podem fazer tanta sujeira? Isso não é coisa de cachorro!
Dizia ela para os cães. Aquele dialogo e aquelas botas azuis, só poderiam significar uma coisa... Minha mãe estava tendo o seu famoso ataque de limpeza desenfreada! Ela começava pelo banheiro com baldes de água e terminava com um jato potencializado de super ducha nas janelas dos quartos. Acordando quem dormia e dizendo: To limpando!
Na verdade, tenho absoluta certeza que essa manifestação de limpeza vinha de alguma entidade sobrenatural que habitava os recipientes de produtos higiênicos. Aquelas embalagens faziam sons guturais sem que ninguém as apertasse. Algo do mal morava nos litros de desifetante e nas embalagens de limpa-vidro. E era só a minha mãe tocar em algum desses produtos de limpeza que logo calçava as botas, vestia seu avental e prendia o cabelo para trás. Aquele era o seu fardo para guerra, e os cães os inimigos da batalha, pois mijavam e cagavam desafiando a ira do soldado de botas azuis!
Deixei de lado disputa pelo quintal, enchi minha caneca branca de café e segui caminho até a sala. Passei entre os sofás e desci as escadas para chegar até à locadora. Lá me deparei com Gil vulgo Gilson (também conhecido como boneco de Olinda ambulante). Naquele momento eu questionava porque maldições uma vez não podia ser uma garota que viesse até mim.
Uma garota de olhos azuis com lábios vermelhos e cabelos castanhos claros. Com um interesse por literatura cujo um dos princípios de vida fosse compartilhar momentos de amor ao meu lado. Me confortando nos dias escuro, suportando-me nos dias de chuva e discutindo o que fosse necessário para que pudesse entender as razões do que é mesmo isso que dizem ser amor. E claro me dando espaço para oferecer o mesmo em troca.
— Fala Cleber!
Cortou Gil do outro lado do balcão quando eu ainda procurava entre as prateleiras de DVDs o semblante da garota de cabelos castanhos, como se ela realmente existisse... Mas no fim só enxerguei capas de filmes antigos!
— Fala Gil!
Respondi num voz meio abatida, voltando outra vez para realidade daquele dia.
— Ou! Ta fazendo o que? O som tá mo alto...
Perguntou Gil. Quando eu me questionava mentalmente se tinha ou não abaixado o volume do som... Talvez tenha aumentado de novo, vai saber!
— To terminando uma carta... Entra ai!
— E como tá saindo a carta?
— Tá meio foda, porque to tentando escrever com pena e nanquim. Mas, sei lá! Não levo muito jeito com pena. Quer ver a carta?
— Tá! eu trouxe uns jogos de PC se liga—Disse ele mostrando os jogos por cima do balcão— se quiser eu instalo pra você.
— Beleza! Faz assim então... Eu acabo a carta e você fica instalando os jogos no PC da sala, daí quando eu terminar te mostro como ficou os traços. Chega ai?
Convidei Gil para entrar novamente. Deixei ele no computador e voltei para o quarto.
As luzes permaneciam apagadas, sendo a aresta de sol que vinha da janela a iluminação necessária para causar um animo de:
“uall vamos acabar logo com isso Sir Cleber de Vazqtow".
Mãos a obra, pena em mãos e logo as letras sairam cuidadosas. Um borro ali, uma mancha que logo foi transformada em desenho. Parece que minha veia artística vem do escuro. Idéias desaparecem e o relógio anuncia que já são.... o que? Quatro horas!!!
Entorno traços rápidos, girando desastrosamente a folha. Coloco enigmas abstratos e assino meu nome... Enfim a carta está terminada! Meu sangue de escritor fica orgulhoso (mesmo sabendo que o correio fecha as cinco e minha casa fica vinte minutos afastados do centro). Apresso minhas pernas e vou até sala gritando como se uma bomba relógio fosse estourar naquele momento.
— Gill!!!!!!
O garoto quase caiu da cadeira com a estridência do grito, acho que ele também sentiu a presença do disparar assassino do relógio...
— Que foi meu! Tá louco?
— Cara! São quatro horas... O correio fecha as cinco e eu preciso entregar essa carta!!! È uma questão de honra...
— Deixa pra amanhã!
— Amanhã é sábado, acho que os correios não abrem sábado!
— Segunda?
— Você não ouviu sobre a questão de honra? Eu passei uma semana enrolando, é hoje ou nunca!
— Tá! Então vamos.
— Vamos—Disse andando sozinho em direção a porta—Que foi Gil? Se não vai cassete!
— Vou! Mas você vai assim...? Sem camisa e com uma bermuda rasgada?
Foi quando reparei que eu estava parecendo um caiçara... Só faltava o chapéu de palha.
A pior coisa, era que havia me esquecido de colocar a carta no envelope junto com as outras surpresas que tinha preparado para enviar junto.
Me fitei no espelho... Enxerguei uma postura desajeitada que fazia dos passos tortos e daquela face risonha meu nome. Em menos de dez minutos estava com minha camisa preta favorita, meu cristal preso ao pescoço e a carta prestes a ser entregue. Só faltava aquele detalhe mínimo de chegar no correio em menos de trinta minutos!
Saímos de casa, Gil e eu com a missão destrambelhada de chegar ao correio a tempo.
— Espera!
Agucei.
— O que foi agora?
Perguntou o que seria a versão alta de Sancho Pancha, Gilson.
— Esqueci minha carteira, dá um tempo ai...
Respondi enquanto corria de volta ao castelo, quer dizer, até minha casa!
Na verdade eu não havia esquecido a carteira, mas havia esquecido a cabeça certamente. Ao abotoar a camisa quando ia descendo a rua, percebi que os botões da mesma camisa estavam para dentro sendo que a camisa em si estava do lado errado . Daí tive a brilhante idéia de correr para casa e vestir a camisa do lado certo . Até porque não queria ouvir sarros dizendo:
“nossa cara, como você é lesado” .
Depois de arrumar a camisa (dentro de casa, longe de olhos humanos a não ser os meus). Voltei a tempo para notar que os ponteiros não haviam parado. Coisa que aprendi muito rápido desde pequeno: O tempo decola!.
Em menos de cinco segundos estava de volta à rua, agora com a camisa do lado certo. Botões da camisa fechados e os pés no asfalto, meu corpo transpirava com o co2 liberado pelas carretas.
— Cara, não vamos chegar a tempo!!!!!!!!!!!!
Essa era umas das diversas frases pessimistas que Gil proferia enquanto desviávamos das pessoas apressadas na calçada. Para piorar quando eu olhava para as nuvens tinha certeza que ali continha sinais de chuva. Foi ai que entendi o pessimismo do meu amigo, mal haviamos saído de casa e os sinais da lei de Murphy aconteciam! Eu Havia tropeçado em três quinas e no ultimo semáforo, um carro quase acabou com os meus sonhos de chegar a vinte um. Portanto enxergar as portas do correio fechadas era uma hipótese bem apropriada para o pessimismo do dia!
— Acho que só vamos saber quando chegarmos né!
Afirmei encerrando o assunto sobre o pessimismo, e do pouco tempo que nos restava.
Depois de algum tempo estávamos em Brás Cubas. Em menos de duas ruas, ao lado do fórum municipal residia o correio. Meu objetivo estava quase sendo concluído. Quando com os dedos pigmentados de nanquim e um sorriso no rosto, avistei a maior fila que já vi para entrar num correio!!! Espantado as únicas palavras que saíram da minha boca foram:
— Caraca! Mas que merda é essa?
Não que aquilo fosse literalmente uma merda, na verdade eram varias pessoas formando o que as tias da pré-escola definiam como trenzinho da alegria. Filas para mim formavam um sentimento de porre globalizado.
— Será que ninguém conhece a praticidade de um e-mail por aqui?
Remungou Gil assim que pregou os olhos na fila.
Parado algum tempo na fila, notei que poucas pessoas estavam com cartas na mão. Um senhor segurava um caixa do tamanho de um televisor, já uma moça tentava organizar as contas do fim do mês. E quanto eu, simplesmente tentava colar o envelope com uma liquido que parecia um musgo branco.
Cartas sociais.... Bem elas eram um padrão pra mim! Gostava de escrever cartas, mesmo não tendo uma letra muito qualificada para isso.
Cartas faziam parte do ser romanesco que permanecia em meu âmago.
Palavras doces para uma vida que se mantinha cítrica.
Palavras que circulavam em sentimentos, tornando meu mundo movimentado.
— São cinco reais senhor?
— O que????
Absurdo! Pensei quando chegou minha vez de quitar para enviar palavras e outras surpresas para uma Anna que se tornou Ziza.
— Está aqui..
— Obrigado! O correio agradece.
Foram as últimas palavras que ouvi da atendente dos correios, foi exato pra mim. Provando que meus objetivos haviam acabado. Demonstrando que o dia chegara ao seu fim e nada me restou, além de falar de jogos e voltar para casa. Ainda tive tempo de me despedir dos amigos e respirar por ter vivido um dia que comparado a tantos outros foi de uma dimensão comum, mas com grandes ações.
Mais um dia na minha vida, mais um X no calendário.... Outro dia como tantos outros que ainda virão, ainda solicitando a esperança que serão cheios dessa mesma satisfação que tive num dia como outro qualquer!

domingo, 16 de novembro de 2008

Enquanto o rosto chove (Entre lamúrias e versos)


Por que lágrimas dissecam no meu rosto?
Sempre que sinto medo ou sou atingido por um raio, cercam-me dessa chuva individual.

Lágrimas que vertem como soro, fervilham-me a face à procura de proteção.

Explicação?

Um cisco acirrado, escolhas erradas... Dedos esmigalhados no asfalto, sentido antro de fracasso consigo mesmo. Decepcionante lado de estar decepcionado.

Lágrimas vertem no meu rosto será, paixão? Lágrimas passam por minha garganta e enganam meu sermão...

“Minha heroína acabou meu cigarro apagou... Meu vicio se absteve. “

Lágrimas que borram meu desespero.

“Nó no pescoço, mergulho do banco...”

Lagrimas que marcam o meu corpo...

Será isso um choro? Sim! Pode ser um pranto daqueles de porta de hospital, óbito na ficha. Velório em dia santo, resposta inesperada depois da amputação.
Sim! É um choro de criança desmamada, de velho viúvo....

De rapaz amargurado depois de ver a nota baixa no gabarito.

Choro de vida interrompida, de vida sem saída. Choro de vida sem sentido.

Lágrimas velejam pelo meu rosto, oceano fundo... Profundo demais para mim.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Analogia do amor e as amoras"




O modo acirrado que o som toma forma na sala. Invadindo todos os cômodos preenchendo essa rotina débil das tentativas dos escritos. Som que na verdade é música, dessas baixadas em outros dias, mas que nesse em especial se adapta perfeitamente com a pena que desliza no papel em branco. Meus dedos sangram nanquim, uma sangria desvairada que penetra linhas retas, curvas tortas e palavras mencionadas sorrateiramente também preenchidas pelo o mesmo som. Desenhos que retratam um modelo meio que imparcial de mim. Como é difícil escrever cartas quando o motivo principal não é amor.

Antes versos fáceis compostos sem mediação, desenvolvidos no calor da alma. Desencadeados por intensidade real. Falar de amor hoje é como falar de amoras, por mais doces que sejam não duram mais que uma estação. Amoras? Certas vezes são doces quando estão maduras, outras azedas quando não estão na hora. As maiores sempre ficam em cima, fixas no galho mais alto. Inalcançadas para uns, bem perto para aqueles que dispõem escadas. Não importa, amoras essas que são tão iguais: Doces e pequenas, grandes e saborosas. Sempre partem deixando o gosto da primavera, deixando a língua pigmentada. Manchando os lábios e as mãos numa cor vermelha , ou num roxo impermeável.



Incessante gosto das amoras... Incessante gosto do amor.

Para mim o amor e uma amora são conjuntos. Presos na mesma estação, dividindo o mesmo paradoxo do sabor amargo, doce ou azedo. Quem precisa de amor? Quem precisa de amoras? Se não as frases contidas naquela carta abandonada em cima da mesa. Pobres versos adoeceram na busca de uma musa. Intocados pelo som, os únicos que permanecem ali em silêncio... Numa última linha sem destinatário.


Constando que não há amor sem amoras ou uma amora sem amor.

domingo, 2 de novembro de 2008

As rosas que lá deixei


—A carruagem ainda corre —Dizia ela—vamos ainda é tempo para refletir tudo o que passamos...
Meu coração para sempre restará em você.
Se eu pudesse gravar aquelas palavras antes de ter proclamado adeus, se pudesse encontrar alguma forma de parar estes espíritos que dançam a sós no escuro. O brilho das estrelas junto aos teus olhos, meu canto hoje surge em mi bemol. Você falava sobre a eternidade, eu aceitava o inacabável sem prova de partida. Sem prova de que nada pudesse acontecer ao teu corpo... Fizemos juras perto daquele carvalho, lembro de sentir o teu perfume misturado aquele sol manso de outono. Se ao menos eu soubesse....
Jamais te entregaria ao dia, jamais te deixaria partir. Se ao menos eu soubesse de seu encontro com o destino.
Os filósofos debatem sobre a eternidade, os piratas arrebatam os tesouros.
E eu o que faço além de esperar o brilho eteno dessa alvorada sem volta? Minhas últimas palavras foram de alerta, sequer eu pude dizer que te amava. Minha ultima imagem foi o desvio de tua face e logo aqueles lindos cabelos longos que tentavam lançar as tuas deixas de adeus.
Não posso poupar palavras quando vi o teu corpo desfalecido arranhando minha alma que agora jazia em perdição. Meu coração batia partido em compassos que estampavam o que menos quisera sentir. Meu acalanto vinha de outras pessoas iguais a mim, pessoas que viam você como laço de vida. Não queria ver as tuas mãos paradas sem aquela cor rubra que me tocava esperança. Nosso o último beijo fora aquele que deixei em sua testa, beijo gelado com cheiro de flores ressecadas.
Jamais perdoei os anjos por te enterrarem aos meus pés, jamais os perdoei por terem cantado aquele réquiem de conformidade. Naquele dia meus olhos despertaram lágrimas, minha garganta pronunciou súplicas de volta... Mas nada trouxe sua alma até mim.. Você tinha quinze e eu dezesseis, o que poderia acontecer se eu parasse os teus passos naquela avenida e dissesse:
"Não atravesse essa é a ponte, não se deixe morrer.... Não se deixe morrer."
Se ao menos eu soubesse, o que teria acontecido? Se não uma face menos mórbida do que me acostumei a ter. Parte do que era meu se foi naquele dia... Parte minha que morreu nos teus braços. Parte de mim ainda são aquelas rosas que lá deixei... As primeiras que te dei, as últimas que lá deixei.

Retrospectiva De Um Outubro Sem Sol


Outubro se foi, halloween vazio. Sem caça aos fantasmas, sem cara de sangue dessa vez. Pra falar a verdade não senti o halloween desse ano. Acho que faz parte de mais uma mudança, essa não tem café ou doces ao meio dia, que seja também sem ousadia.

Queria postar essa retrospectiva no final do ano, mas aqui vai:

Eu acordei numa terça de janeiro, com a minha cicatriz escassa sangrando como em cinco anos atrás. Disse para mim mesmo que jamais teria cacos jogados no pescoço outra vez, bom não foi bem assim. Tive que ver os mesmos olhos de um inverno onde não houve verão. Outra vez fui resumido a migalhas e agora por conseqüência minha. O primeiro emprego se foi junto ao stress de Natal, não havia mais caixas, e o cheiro das sacolas que impregnavam nos dedos também haviam desaparecido. Meu nome não era mais pronunciado com uma sigla numérica, e assim vi metade de mim ser deixado outra vez numa data. Sobrevivi até Fevereiro, encontrei como refugio outras canções e as aulas de tcc. Meu coração ainda em cacos se mantinha, não vi preocupação ou zelo nesse tempo. Minhas poesias fúnebres davam origem á uma narrativa estranha, enquanto meu estomago embaralhava minhas vísceras tentava acha um motivo por tamanho desencadeamento. Fato que agora tinha endereço e horas de quilometragens. Eu fingia que ouvia e as pessoas diziam me escutar. No final éramos surdos e mudos numa festa sem bebidas. Os dias passaram rápido, os prédios colidiram, a bolsa ficou arruinada e eu estava empregado de novo, olhava para janela e a madrugada ainda me acompanhava. Tive que guardar tantas palavras dentro de mim pois tinha medo em transferir a culpa do que estava sentindo, guardei tudo numa valsa silenciosa. E assim fui chamado de introspectivo, tinha segundo nos olhos e face ao vento... Fui despedido por parecer estranho, mandado embora por não ser cinza quando queriam amarelo.

Foi então que meus dias de quinze anos voltaram os mesmos gestos às mesmas tribos. Eu paguei meu karma no silêncio, paguei nas madrugadas sem rumo. Paguei por simplesmente ter acreditado um pouco mais em mim. Fui perdendo meus carneiros nos pastos, tendo mais chuva nos olhos do que na janela. Despertando solos de violinos tristes. Tentando modificar essa personalidade, virei a pagina, mas a história estava por todo canto. Virei personagem de mim mesmo, recordando por não saber simplesmente recomeçar. Saturando-me os pequenos fragmentos, com esperança de ter esse silêncio fecundado de som. Chega disso tudo, basta dessa procura. Quero meu halloween de volta, quero meu sorriso de volta. Estou cansado de todo esse desmoronamento, dessas faces encobertas. Esse mundo do avesso não é pra mim não,essa terra sem nome. Onde ninguém se preocupa sem ao menos perguntar o que é preocupação além si próprio. Acho que de Rodrigo S.M, virei Macabea dessas que gostam de coca cola. Macabea fantasiada no halloween.

Agora chega de ser piegas, afinal ainda tenho aquela sinfonia, por certo que amarga e doce. Mas ainda sim é minha sinfonia.