segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Analogia do amor e as amoras"




O modo acirrado que o som toma forma na sala. Invadindo todos os cômodos preenchendo essa rotina débil das tentativas dos escritos. Som que na verdade é música, dessas baixadas em outros dias, mas que nesse em especial se adapta perfeitamente com a pena que desliza no papel em branco. Meus dedos sangram nanquim, uma sangria desvairada que penetra linhas retas, curvas tortas e palavras mencionadas sorrateiramente também preenchidas pelo o mesmo som. Desenhos que retratam um modelo meio que imparcial de mim. Como é difícil escrever cartas quando o motivo principal não é amor.

Antes versos fáceis compostos sem mediação, desenvolvidos no calor da alma. Desencadeados por intensidade real. Falar de amor hoje é como falar de amoras, por mais doces que sejam não duram mais que uma estação. Amoras? Certas vezes são doces quando estão maduras, outras azedas quando não estão na hora. As maiores sempre ficam em cima, fixas no galho mais alto. Inalcançadas para uns, bem perto para aqueles que dispõem escadas. Não importa, amoras essas que são tão iguais: Doces e pequenas, grandes e saborosas. Sempre partem deixando o gosto da primavera, deixando a língua pigmentada. Manchando os lábios e as mãos numa cor vermelha , ou num roxo impermeável.



Incessante gosto das amoras... Incessante gosto do amor.

Para mim o amor e uma amora são conjuntos. Presos na mesma estação, dividindo o mesmo paradoxo do sabor amargo, doce ou azedo. Quem precisa de amor? Quem precisa de amoras? Se não as frases contidas naquela carta abandonada em cima da mesa. Pobres versos adoeceram na busca de uma musa. Intocados pelo som, os únicos que permanecem ali em silêncio... Numa última linha sem destinatário.


Constando que não há amor sem amoras ou uma amora sem amor.

Um comentário:

Felipe Anjos disse...

amor azedo ou doce ,não sei mas as estações sempre tem seus sabores .amoras e amores azedo ou sem gosto algum ou nos faz ter mais uma estação do ano mais uma faze do amor ...