domingo, 5 de fevereiro de 2012

O silêncio sou eu




Caminho na rua escura está tudo silencioso  e não é difícil ouvir o som que o vento faz, e assim sentir nostalgia da época que os sons traziam magia  Dessas de existência poética, que somente certos olhos conseguem captar. Que somente o coração certo tem poder de sentir. E sentir é algo tão incomum nesses dias.

Atravesso a esquina, e diante de mim alguns carros passam com os faróis quebrando a escuridão da noite.
Neste momento, eu acredito no silêncio como se ele fosse uma entidade que brotasse do asfalto, gritando bem alto que me compreende, e por algum motivo além dos cosmos e da vida na terra, entende minha dor.
Esqueço o silêncio por um breve momento, arrumo meu agasalho enquanto penso: "como pode existir frio se ainda é verão".

Sinto o pé esquerdo encharcar, assim que o firmo contra uma poça. A água entra por um buraco pequeno no tênis esquerdo,  ele  agora transborda de dentro pra fora.
Como ação contra o frio, enfio minhas mãos no bolso e continuo o caminho. Afinal, a gente sempre vai indo, seja por felicidade ou tristeza, sempre seguimos algum caminho. E não nos resta  tempo algum para o desconforto de uma poça d’água ou  até mesmo o conforto de um cobertor em dias de frio.
Sempre na mesma  meta: nunca olhar para trás. Pois, quem olha se dispersa e confunde tudo.

Felicidade ou tristeza são luxos nos dias de hoje.

A temperatura me odeia, assim como o que restou da chuva.
O silêncio por sua vez ainda me ignora, como se eu gritasse desesperadamente e não houvesse resposta, senão o eco rouco da minha própria voz.

Se o silêncio é uma entidade, então ela me abandonou neste instante.

Paro um segundo e olho para as estrelas, penso comigo que a chuva sempre deixa o céu mais estrelado. Depois da chuva o céu sempre é mais claro,depois da escuridão a luz sempre é mais viva. São princípios de uma noite que o dia deixou, princípios de alguém que caminha há mais tempo que eu e olha para o céu implorando  redenção. Pensando assim, talvez este silêncio seja a minha redenção.

Talvez, sua inevitável ausência cause-me essa longa viagem, esse diálogo interior. Sendo, o silêncio, eu mesmo. Então, senhor da minha própria caminhada e entidade controladora do meu próprio destino.

O caminho termina, e o  silêncio começa agora, pois é só na ausência de tudo que algo  passa a existir.

Silêncio!

E eu existo.