domingo, 21 de março de 2010

Nome composto ao luar!



De relance a lua brilha, todas as noites ela brilha  acompanhada pelas estrelas forrando o céu numa escala prateada. Estou Longe, bem longe de casa.

Milhares de pessoas acordam na outra ponta do mundo. Preparam o café da manhã, escutam os carros andar. O mundo gira e cresce, nasce milhões... Falecem bilhões.

No mundo só no mundo.

Ganhei um nome dos meus pais! Escrevo ele todos os dias na lista da chamada. As vezes alguém acha que ele é composto e tasca lá meu nome do meio. Parece frase pontuada quase um monologo prolongado. Só o nome composto... Apenas o nome composto!

È difícil ter um nome do meio parecido com nome duplo. Tipo um Carlos Eduardo, ou um Joaquim Fernandes.

Se pudesse me dava um nome indígena tipo Lobo uivante.

Tanta gente no mundo, tantos nomes de santos... Qual é o peso do meu perto de tantos deles?

As vezes eu me esqueço de como me chamo. Daí assino apenas a primeira letra. Gosto do meu sobrenome, ele é meio comum, mas tem essência... È de poeta.

Tive alguns apelidos, mais só um deixei que sobrevivesse. È diminutivo e as vezes me deixa constrangido, é algo com menos de cinco letras meio parecido com um som fonético. Me faz lembrar a infância, é quase inconsciente é quase como ter nove anos ainda e casquinhas no joelho.

Se pudesse deixava meu nome e escrevia só meu apelido.

De todos os nomes e apelidos, eu sinto falta de um verbo.. Um único verbo. . .

E por isso retomo a lua... Só por isso que desejo as estrelas!

Quero voltar para elas! Só até o mundo girar aqui embaixo, só enquanto o mundo girar aqui embaixo.

Para o céu, até lua... De volta ao meu lar!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Vertente Parisiense


E o frio entrou pelo portão e pelo jardim, remexeu as plantas... Entrou pelas janelas, dizendo que era o fim do verão.
 Meus pés ficaram gelados, minhas pernas tremeram e meus lábios racharam desde então. O café esfriou em cima da mesa, moldando um circulo perfeito sobre uma folha...Já não tenho a mesma idade, já não é a mesma estação.
Mas o frio sempre é o mesmo!
Aqui o clima não é parado, aqui a garoa deixa uma névoa tristonha pela manhã, esfriando na medida que avança pelos bairros. E lá no horizonte ela fica estagnada como uma fumaça alvejada, o hálito branco passando pelas montanhas.
Tem gente que diz que parece Londres, tem gente que apenas pega uma coberta se senta no sofá e assiste uma partida de futebol qualquer reclamando do frio. Tem gente que só reclama, seja o tempo que for, esteja muito frio, ou muito quente.
Atmosfera parisiense pra mim...

Cheio de ruas de paralelepípedos, e cafés de cadeiras altas.
Bilhetes de eu te amo e um amor a moda francesa. A torre Eiffel ao sul e um cigarro Le Gastón nas minhas mãos... De longe uma garotinha come pipoca correndo atrás dos pombos , o ar frio faz com que eu ajeite o cachecol verde, daqueles tricotados a mão que roubei do guarda roupa do meu pai. O garçom substitui a xícara vazia por outra cheia de chá... Agradeço com um “merci “seco. E volto a escrever sobre as linhas do caderno, apago o cigarro no cinzeiro . Sublinho a última a frase e levo um gole de chá até a boca... È de maçã, e falta um pouco de açúcar. Mas não me importo, só quero permanecer quente para desenvolver esse texto até o último parágrafo. A garotinha que corre em circulo tropeça  caindo de cara no chão, os pombos voam e a pequena se levanta com uma pipoca colada na testa e começa a berrar! A mãe logo aparece para socorrer a garotinha dizendo no idioma que mexe com meu interior em cada fragmento. Eu paro de escrever, noto cada palavra que a moça diz para a pequeninha... Cada” Mon petit”, cada, “t'aime, mon amour!” causa algo inexplicável ao meu corpo... Algo que só o frio era capaz de causar!
Já não me prendo ao meu texto, ou ao chá que esfria rapidamente na xícara.

Eu começo a contemplar a velha cidade involuntariamente, a moça beija a testa da garotinha e eu permaneço ali no frio, sentado na cadeira com o mesmo cachecol passado entre o pescoço, no meio da velha Paris. Ouvindo o idioma do romance, mas eu não tenho aliança no dedo. Não tenho palavras doces a ofertar e nem mesmo os versos que escrevi no caderno tem algum sentimento de romance empregado!
O frio me deixa romântico, o frio me leva até Paris, mas no fim não adianta muita coisa, não adianta porque só tenho histórias tristes de taberna suja, passado em folhas de coração partido!

E o que é Paris sem estar do lado de alguém que se ama? O que é Paris sem ninguém para amar?
A cidade perde o gosto, como a vida também fica sem gosto quando se pode dar um buque de flores e não ter nenhum  destinatário!
E o frio continua a entrar pelo jardim, passa por mim, mexe as cortinas e pede um agasalho acolchoado e um copo de chocolate quente... Já me perco nas minhas vertentes, já não tenho mais açúcar. Já não estou mais em Paris... Acho que nunca estive. Acho que nunca amei ninguém, talvez nunca tenha bebido chocolate quente. Ou entregado um buque de flores antes na minha vida. Não! Eu nunca entreguei.
Acho que não acho mais nada. Mais o frio ainda entra pelas cortinas, e me dá esse Q de romanesco.
Paris?

Paris foi um sonho... só um sonho perdido de alguém querendo alguém!
E eu me subscrevo sem querer...

Saudade, espera... Qualquer coisa.
Droga! Também não foi você.

Au revoir chéri.