segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Anódino (O que ela queria dizer, mas não disse)

Nas entrelinhas eu estou fora de você, não opto desmentir as tuas palavras de suplica. Eu busquei algo que não podia me dar, não eram palavras ou sentimentos puros que procurava. Eu chantageei tua saudade, abriguei tuas ilusões dentro de mim. Sou um pedaço da roda daquele velho ônibus, fui até o fim e disse que nunca iria embora.
Simplesmente menti.

Não quero mais teus presentes, não quero tua paixão ou sentir teu cheiro nos incensos que me enviou. Meus olhos não interligam em sua crença, e nada mudará minha opinião. Você tampou os teus gritos, e jogou teu corpo em pleno sacrifício. Mas não podia me dar sua presença.

Fui fraca em esperar, e mal pude acreditar.

O que são palavras quando é preciso à alma, o que é uma alma quando se tem o tato.
Foi fácil te substituir, os olhos de vidro viraram olheiras de carne. Sua voz grave intransferível fora trocada por uma caixa de ninar. As tuas histórias que me acalentavam na cama, troquei por um toque.


E rapidamente matei você em mim.

Sem choros, ou traumas troquei o teu amor verdadeiro por um óculos frágil. Néctar de ópio, sono sem vida... Troquei você

Um dia quando parar essa pulsação novamente, vou me interagir com outra cama, ouvir novas histórias.Fugindo inospitamente de você, fugindo de meus próprios olhos.

Ou o que fiz a ti..

Simplesmente menti.

domingo, 17 de agosto de 2008

Paliativo II "Sacrificado"


Eu sufoquei meus gritos para que então você pudesse gritar...
Afoguei-me em lagrimas, para nunca mais te ver chorar.

Ofereci-me de sacrifício, para que você não precisasse se mutilar.

Fui recortando as mágoas, colando as dores, guardando-as somente em mim, nunca deixei resíduos que pudessem barrar o teu caminho.

Foi por você que rasguei minha alma, feri minhas conseqüências e fui enviado ao exílio...Somente para deixar-te seguir...

Fiz-me de caixa para que jogasse tudo o que tivemos dos momentos aos esquecimentos. Para que assim pudesse escrever novas cartas, estabelecer novas lembranças.

Somente para deixar-te seguir. Implantei-me escuridão para enviar-te a luz, e assim fui me tornando Avatar de sua partida.

Eu fui muito você e você nada de mim.
E no presente mil pedaços se perdem.
Sendo pra sempre parte do que me foi.


Tentando decifrar aquela despedida.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Aquele que me carregou nos braços


A cada minuto que passo descrevendo minha vida, lembro das tuas palavras nos dias de chuva, dizendo com razão paterna de quem já viveu. Nunca foste de desperdícios, até nas falas era de bom senso e ia direto ao ponto. Seu apoio de joio especial me carregou nos braços quando em pernas mal conseguia me sustentar. Me atiravas ao mar quando sentias medo da água fria, me provando que devias acreditar e que os saltos nem sempre dependem de nossas próprias pernas, pois em certos casos é preciso o impulso.Apelidou-me de pequeno, filhote, filhotinho e mesmo quando não tinha idade para entender as palavras. Me cultivou em historias, e me ensinou em quadrinhos, fitou-me como tesouro raro, daqueles enterrados no coração e quando entendias do que era uma ameaça ao roubo, armava-se com punhais e dentes para minha proteção.Dias se passaram e de pequeno virei médio e de médio aos poucos fui crescendo. Hoje das palavras já entendo os desenhos, e mesmo ao mar ainda temo saltar. Hoje tenho os teus cabelos castanhos e sua face jovial. E por mais que ache que de tudo já passei, ainda me prova que de muito ainda terei de passar.

Hoje entendo o teu silêncio, e mesmo inospitamente sei que está de olho em todas as minhas decisões, ainda se preocupando nos saltos e me amparando nas quedas.Tenho seu jeito de falar, a mesma ira em se expressar. E o modo distinto de amar, e daquelas histórias que tanto admirava quando me contava hoje me admiram quando as conto.Sim, você é o meu pai... Aquele homem que crescemos vendo ir ao trabalho e com isso aprendendo o que é o sustento. Aquela voz grave que tanto tememos ao escutar, e que depois de certo tempo fragmenta em nossa mente como voz da saudade.Algumas pessoas dizem que heróis não existem, e que espelhos só servem para termos uma visão embaçada de nos mesmos.

Acho que essas pessoas não tiveram o prazer de te conhecer, pois se tivessem essa oportunidade saberiam que em seus atos a palavra heroísmo consegue seu significado mais pleno. E que se toda humanidade tivesse um pouco do teu reflexo, nada seria tão seco.Hoje eu sei que tenho muita sorte por ter alguém a quem me espelhar, alguém tão grandioso. Isso será minha maior herança.. Se um dia quando olhar ao espelho e ver que herdei os teus traços, que segui uma vida parecida a sua, será uma realização maior que qualquer sonho que guardo dentro de mim.

Um dia pai, contarei sua história para que todos ouçam, para que todos ouçam e vejam que por trás de um nome tão simples. Houve um ser humano fantástico que alcançou o amor verdadeiro. Que curou a própria dor diversas vezes, para que assim pudesse vender o remédio.
Através de um sorriso.Contarei a tua história para que o mundo possa ver, quem me carregou nos braços... Quem pra sempre e muito mais, chamarei de "Pai".

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Crença D'água


Um homem caminhava por imensas dunas de areia. dias talvez meses haviam se passado. O caminho de volta fora perdido. No principio era ele como um naufrago, vindo de algum sonho desfeito. Talvez fosse o único sobrevivente de um desastre ecológico. O último humano a desbravar montanhas douradas de um deserto. Um deserto de areia e vento, escaldante e tão quente quanto o inferno.
Já fazia algum tempo que o sol havia fritado o que ele acreditava ser realidade, sua mente estava alucinada e não pensava em algo além de água. Todas as virtudes e dotes que um dia havia aprendido na vida, não bastavam em nada. Todos aqueles momentos que passara fazendo analise psicológica, vencendo os medos e sinas para enfim poder dizer que possuía o titulo de pessoa "normal", sequer o ajudavam em meio daquele clarão. Por mais integro e dotado de preceitos inatingíveis que o faziam com que as pessoas o vissem como um grande homem de nada valiam. Pois por mais que possuísse status necessário para dominar uma cidade, aqueles simples conceitos eram incapazes de ultrapassar os lençóis freáticos e fazer com o que jorrasse água do chão.


Todos os livros que havia lido,paginas implícitas de auto-ajuda, não faziam com o que seu medo desaparecesse . De nada adiantava, olhar para dentro de si.. De nada adiantava saber quem havia sido . Mestre ou doutor, ele continuava a sós sob o deserto.
O desastre, havia acontecido e ele estava ali, a margem das dunas com a boca seca, corpo desidratado... E mesmo assim uma vontade vinha de alguma parte além de seu físico.
Era uma espécie de força difusa, que o levava a querer mais do que estar ali e ser entregue a morte. Ele não sabia quanto tempo ainda viria agüentar sem água, mas não podia simplesmente parar, e se deixar morrer. Sua vontade, sua presença o interligava numa esperança inepta... E com menos fôlego que uma criança pequena, aquele homem olhou o horizonte a escalou a duna de areia, inspirando pó.

Em meio à essência e alma do deserto, sentiu a força dos anos que as areias produziam. Dos povos que ali haviam sobrevivido ao calor. Que haviam fincado sua marca, uma vez mais antes do vento apagar as pegadas ali mantidas, e ele, homem vagante sentia uma energia de passagem postada ali. Talvez fosse aquela força, responsável por invocar seus sentidos de esperança. Era umas de muitas heranças que o deserto doava para aqueles que desbravam as areias em busca da sobrevivência.
Quando ele chegou no limite final daquela duna, observou uma cabana simples e desgastada, amadeirada das portas até o telhado, construída no alto, poupada pelas tempestades de areia. Não era a apenas a imaginação febril daquele homem, a cabana possuía um quesito em milagres ou os milagres possuíam um quesito com aquela cabana. Arrastando-se, ele conseguiu chegar até a porta, empurrando de modo desajeitado com a cabeça, descobriu que já estava aberta.
Para o espanto e tristeza daquele sobrevivente a cabana não continha vida humana somente alguns barris de carvalhos e algumas cordas jogadas na areia rala.

Por mais que a cabana num primeiro vislumbre não oferecesse nada além de velhas tralhas, o ambiente coberto era de imenso frescor. Não fora preciso muito esforço, para que o corpo desgastado do sobrevivente caísse nos braços do sono, momentos foram despertados e cenas apareciam convertidas em cacos de uma memória velha alinhada, transformada em sonho... Faces acirradas, papeis espalhados no chão... Terror nas faces alheias, eram as lembranças que os sonhos traziam. Por um instante ele via-se diante outros olhos, palavras rudes e um mau humor deplorável, estarrecia lagrimas em outras pessoas. Nascia o monstro em segundos de descontrole, raiva pulsava naquele homem engravatado. Por mais fino que fosse ainda sim achava motivos para desqualificar as pessoas, colocar cada um em seu lugar, mesmo que para isso fosse necessário destruir os sonhos alheios. O sobrevivente estava assustado, aquele homem vestido com um terno cinza e gravata vermelha, certamente tinha a mesma face que a dele.
Não! Aquilo não era irreal, eram fatos enraizados em sua mente, fantasmas que chacoalhavam suas correntes de débito. Ele nunca havia estado tão envergonhado de quem era... Quantas pessoas devem ter chorado por suas palavras grossas e desnecessárias? Quantos amigos devia ter perdido por julgamentos mal pensados, acolhidos por ira passageira? Por um momento aquela revelação vinha em sua mente enquanto sonhava, nesse momento ele se lembrava de dirigir um carro numa estrada imensa cercada pelo deserto. A viagem estava no fim quando uma tempestade de areia enegreceu o para brisa, ofuscou sua visão e o carro perdeu sua rota e mergulhou no esquecimento das areias e do tempo. O celular foi uma esperança, mas depois do ultimo gole d’água as esperanças começaram a serem liquidadas pelo sol e logo vinha o desespero. E assim de homem de negócios, ele virou um homem sobrevivente, das gravatas foram feitas as amarras e um chapéu improvisado, o terno fora rasgado no meio e improvisado em sapato. E por fim a realidade do sol o ensinou a temer a vida. O deserto o levou ao encontro da morte muitas vezes, mas ela por algum motivo o ignorava. E sem mais ele havia chegado na cabana, e continuava ali... Adormecido, desnorteado até que uma lasca pesada de madeira caiu em sua cabeça e o despertou.

Não havia mudado muita coisa, as cordas e barris ainda continuavam ali, ele se lembrava do sonho, e agora tinha certeza de quem havia sido... Desejava mudanças, mas sabia que não lhe restava muito tempo de vida. Então se levantou e foi em direção ao deserto, queria ter sua lápide ali fora junto da areia. Tendo as estrelas e o céu como ultimo vislumbre. Foi então que teve uma idéia, por que não chegar mais perto das estrelas? Subir no alto da cabana e sentir o hálito de deus... Com seu ultimo vigor escalou a cabana, porém não conseguiu se fixar nos vãos de madeira. Precisava de algo que pudesse pendurar. Não precisou de muito raciocínio, para lembrar das cordas que permaneciam na cabana...

—“São velhas mas dão para o gasto” .
Imaginou ele sorrindo, era o primeiro sorriso que despertava depois de muitos anos, mas ele nem se deu conta que estava sorrindo. Ironicamente sorria para morte, quantas oportunidades havia tido ele para sorrir? E sequer ligou para sua face. Metas, custos e impossibilidades... Lemas que o levaram para aquele fim. Uma eternidade em passos pequenos, foi o tempo que o homem levou para chegar dentro da cabana, passos turvos e o pulmão carregado e uma ânsia repentina. Assim que ele abaixou a mão para pegar a corda, um vômito ralo o deixou de joelhos no chão,os joelhos doíam assim como a cabeça e o estomago.
—Estou morrendo é o fim...
Palavras soavam de sua boca numa morbidez sem igual, ele recostou as costas lentamente em um dos barris e aguardou o semblante final de seus segundos.Porém sentiu algo entre suas costas e o barril, era gelado e firme, assim que pegou o objeto, o homem ficou surpreso:

“Uma garrafa com água”.

Aguçou ele, sua esperança estava reativada, podia sentir os lábios úmidos desejando a tragada, quando tirou tampa da garrafa e ia levando até boca, percebeu uma carta no chão... Segurando bruscamente o desejo de água, ele pegou a carta e leu as seguintes palavras:

Meu caro amigo, escrevo nessas linhas dizendo que a sua direita há um poço, desses antigos que precisam de água para emergir mais água. Porém para isso ser possível, é preciso uma dosagem certa de água. Por isso meu caro,não beba uma só gota dessa garrafa, pois se beber a água vai acabar "e não será possível tirar mais água do poço" então você não sobreviverá aos dias seguintes... Pois não haverá água necessária para tal ato. Portanto deposite toda água no funil acima do poço e gire a manivela, assim que fizer isso água vai emergir do fundo do poço e terá toda água que conseguir tomar...
PS- Quando terminar encha a garrafa outra vez e coloque em baixo desta mesma carta. Para que outro possa compartilhar desse poço, não se esqueça isso é muito importante.

Boa sorte.

O sobrevivente logo procurou o tal poço, e o achou atrás dos barris como dizia na carta. Estava tudo conforme as linhas descritas, porém a superfície do funil onde a água devia ser derramada estava totalmente enferrujada. Poderia não haver água ali? Quanto tempo aquele poço poderia já estar seco? Não havia garantia de água somente a que estava naquela garrafa. Mas a carta estava certa, aquele gole não era o suficiente para que um homem pudesse sobreviver ao deserto... Tantos dilemas encurralavam o sobrevivente, ele nunca fora bom em questão de confiança. Milahres de duvidas acendiam em sua mente como... Porque deveria ele acreditar? Aquela água que trazia na mão poderia ser perdida derramada ali, e se nada saísse daquele poço? Ele estaria perdido e sem água nenhuma.

Foi então que descobriu uma coisa, sempre agia por medo. Desfazia assuntos por ter medo e não confiar nas possibilidades. Sua ira e raiva não passavam de insegurança, desde sempre tinha medo que outros o machucassem então atirava espinhos. Porque não fazer diferente daquela vez... Porque não confiar uma vez e poder não só se deliciar de um gole d’água, mas sim de muitos goles... Com este semblante de fé ele despejou á água no funil enferrujado e movimentou a manivela, e água jorrou... Não escura como ferrugem mas clara e limpa como das fontes naturais que ele tanto sonhava. E então o sonho de beber água havia se realizado, não só por uma vez apenas, mas sim muitas vezes com água suficiente para banhar a nuca e armazenar água além do próprio corpo. Sua crença o trouxe bem mais que do que ele imaginava.
Não se sabe se o sobrevivente do deserto enfim sobreviveu à trajetória, o que se sabe... È o que as areias nos contam. Que talvez ele não tenha morrido naquele dia e conseguiu presenciar mais uma vez o bafejo doce das estrelas sob o deserto. È certo que o homem violento e raivoso que era, se perdeu nos rastros deixados nas areias, e somente o que seguiu fora sua alma... Limpa e pura como água que jorrava do poço na cabana.
_____________________________________________________________


"Nota do autor"

Temos medos de arriscar em desafios que parecem ser impossíveis, dignos de não ter crença e que nos fazem temer pelas circunstancias. Porém é somente acreditando que tudo pode dar certo. Temos que enfrentar sem desdém, só assim podemos vencer. E desfrutar de momentos mágicos eternos, como um grande poço sempre jorrando todos os dias aquilo que sonhamos, ao invés de nos adaptarmos com uma garrafa triste de água que possibilita apenas um leve frescor durável restrito ao tempo.
Eu odeio palavras tolas dizendo, "vamos filho acredite, acreditar é poder...". Mas o que é pior do que fraquejar e nos adaptar a realidade? Aceitar sonhos menores... Sentimentos menores, porque simplesmente temos medo das circunstancias. Não! Isso pra mim é história da Carochinha que coincide numa vida sem aventuras, demasiadamente tola e sem paixão necessária. Por mais que se trate de otimismo barato, é melhor que rasgar os sonhos numa fogueira e mentir para o mundo inteiro e pior mentir para você . Então limpe a retina e busque o quer, pois mais cedo o mais tarde isso pesara em suas decisões como uma esfera mal conquistada. E ai que acreditar faz toda diferença...

Cleber Vaz . . . (O tempo voa)

______________________________________________________________