quinta-feira, 30 de setembro de 2010

13


O quarto me mostra o passado, tão perto e tão longe do hoje.
È impossível retroceder, virar a esquina e ter de volta os anos que passaram.
È tão estranho fechar os olhos e ver imagens alternando... Cinco, seis doze anos.

Cheiro de dama da noite no portão, cheiro de manhã em dia fresco. E uma vontade de ficar em casa assistindo desenho.
Ah! Como queria virar a esquina e poder voltar no tempo. Quatro, talvez dez minutos. Até me perder nas lacunas do tempo.

Saudade é a única coisa que resta na gente. Saudade não se limita, se tem! Vem quando quer e desaparece quando dorme.
Os objetos são os únicos que não conhecem o valor do tempo. Vão indo perdendo a cor sem consciência da fuligem. O tempo é uma aritmética humana tão inalterada que pouco some, e muito reaparece.

Ciclos... Fim. Começo. E logo fim de novo.

O Ciclo do quarto é onde outrora havia um baú de brinquedos. Logo substituído por camadas grossas de maturidade, onde desenhada em teses cientificas de alguma coisa que um dia também vai se alterar.
Minha esperança vem nisso... Nessa resposta que tudo é mutável!
Tudo, menos a saudade... A saudade fica,

Finca. . .

Resta!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Brasil! O país que os brasileiros não conhecem.




Somos cento e noventa milhões de pessoas, aglomeradas em cento e noventa milhões de  opiniões diferentes, atribuídas a centenas de culturas etimológicas. Inventamos o samba, o arroz com feijão e o café (é necessário; e preciso repetir) o café!
Aqui o café conheceu sua grande escala e por um tempo éramos majoritários dessa obra prima divina. Aqui falamos alemão, francês, guarani, tupiniquim. Temos o meio ambiente mais rico do planeta: O cerrado, a mata atlântica, a caatinga e os pampas. Climas temperados, árido semi árido numa grande escala verde tropical.
Nossas bananas são maiores, nossas laranjas são mais laranjas assim como amplas e sinônimo de sabor. 
Somos a nação da felicidade, nomeados persistentes (Com alguns probleminhas na política, convenhamos que nem tudo é perfeito nessa vida!) e outros na educação, mas ainda assim somos culturais até quando nos falta cultura para alguma coisa (convenhamos ainda que nem tudo é perfeito nessa vida!!).
Com todos esses aspectos não deveríamos louvar a nossa terra e sonharmos com as águas claras de Fernando de Noronha?
Não deveríamos praticamente conhecer o valor de nossa história e ficar apaixonado com a riqueza dos povos que mesclam na nossa pele bicolor? Somos brancos, pardos, pretos e indígenas. E por que somos irracionais ao ponto de sermos tão racistas?
Entendendo que cada parte de fora que queremos, ansiamos visitar foi nos mostrado aqui em solo verde amarelo. È difícil entender como o estrangeiro ama a nossa cultura, o nosso clima e as nossas mulheres (pode ligar essa parte aos tesouros da nossa pátria) enquanto procuramos sempre o horizonte exportado! Ouvimos músicas de fora, enquanto esquecemos da música raiz do vaqueiro interiorano. Adoramos a "Black Music" e deixamos pra trás o samba de gafieira.

Entre dez Brasileiros que você faz a pergunta: “Que lugar você gostaria de visitar?” A resposta é uníssona Londres, Paris ou algum lugar da Europa.
Somos os primeiros a trocar a nossa terra por algo distante! Queremos a quarta avenida em Nova York e sequer fomos na Av: paulista em São Paulo.

Num pais onde temos medo de declarar que os nossos ancestrais eram índios e negros! Mas afirmamos com louvor a parte mais rala: portugueses, ingleses, gauleses e Italianos... Temos medo de que? Temos despeito de que?
Se não nós mesmos e nossa própria etnia mameluca. Misturada, típica do mundo inteiro e mesmo assim somos os únicos a taxar só um tipo de raça invés de dar razão a diversificação!

O Brasileiro não conhece o seu país, não conhece o próprio povo.

Gostamos tanto do nosso Éden como as empresas gostam de seus clientes somente até o lucro acabar!
Eu me pergunto como podemos ser tão gratos e excessivos ao mesmo tempo com a cultura de fora, e fechamos os olhos com a imensidão de riquezas que temos quando abrimos a janela?
No passado eles quiseram a Amazônia, hoje eles ainda a desejam. E nós? Será que realmente nos importamos com ela, na parcela que nos importamos com Londres, Paris e outras coisas que não nos pertence?

Como aquele ditado diz: Se não cuidar do que é seu, alguém vai cuidar por você.

Então por favor, vamos dar mais importância para o que é nosso! Seja se importando mais com a política. Seja sem essa coisa idiota de racismo, seja essa de sermos o que não somos. Porque se existe uma coisa que devemos ser, sendo que não estamos sendo (e já passou da hora de sermos) é sermos Brasileiros!

domingo, 27 de junho de 2010

Ditadura lar doce lar



Estou cansado desse mundo de imposição, cheio de pessoas que se limitam a ditar coisas e julgar!
Numa sociedade como a nossa eu não me assustaria se o curso de direito fosse o primeiro no rank de escolhas para a profissionalização. Digo isso de tanto ver julgamentos alheios, que as vezes, sem querer, me torno réu inocente (e outras me condeno facilmente por meus próprios atos).
As pessoas julgam primeiro, sentem depois (ou nunca sentem), e por último questionam se estão certas. Não que esteja me fazendo de vitima, não é isso! E assumo minha posição como nascido sobre o signo de virgem, e logo herdeiro do modo irritante e analítico dos virginianos (sem contar as doses de perfeccionismo),por isso também tenho minhas doses de tirania diária. Mas é algo que tento trabalhar ao máximo, me questionando sempre que necessário,e por isso exercendo uma qualidade que me proporciona tirar dez (o único dez) na matéria de psicologia: A empatia!
Ter empatia significa apresentar uma identificação afetiva com uma pessoa. Alguns podem confundir isso com algum tipo de afeto amoroso, certo?

Errado!

Empatia é o ato de se colocar no lugar de uma pessoa, saber o que ela sente ou porque pensa de determinada forma. Parece fácil, mas na real é muito difícil! Porque somos altamente levados pelo senso egoísta que gira em torno do nosso umbigo.
È muito fácil apontar o dedo para o outro e ditar o que deve ser feito. Afinal, não se trata de nossas proprias ações,
são  as do outro. E o que os outros são, além de alguém que não seguiu os preceitos que julgamos serem certos. È mais fácil dizer que o umbigo alheio está sujo. Nesse caso (só neste caso) a dificuldade está em olhar para o próprio umbigo e observar o quanto também é sujo.
Igualmente, temos milhares de religiões que ficam por toda a eternidade apontando o que deveria ser “certo” e ou que é “errado”. Sendo todas irmãs que apontam para o mesmo foco, e quase sempre, ditando as mesmas filosofias: Elevação espiritual, explicação para o fim premeditado de todos nós (lê-se morte). Ou boa conduta de vida (lê-se: caridade para paz interior) ou ainda exploração a fiéis por causa maior (lê-se dízimo) Ops! Olha eu já julgando a religião alheia.

O fato é que crescemos com isso em casa!

Os pais transvestidos de capa preta, e um pulmão robótico do tipo “Guerra nas estrelas” impondo modos, ações, e ideologias que acham certo. Julgam e se cercam de Hierarquia acreditando sempre que pai é pai. Logo Senhor soberano da verdade absoluta sob o teto de casa.

—Você deve cortar as unhas!

Dita o pai para a filha adolescente.

—Por que?

Questiona a garota, de saco cheio por ser a terceira vez que o mesmo assunto é repetido na mesma semana.

—Unha grande é coisa de prostituta!

Impõem o soberano trabalhador e dono da casa.

—Mas tá na moda pai e eu gosto...

Ela nem consegue terminar e logo ele a corta.

—Você gosta de parecer uma prostituta? Olha! Você mora sobe o meu teto, então vai fazer o que eu estou mandando!

Diálogos assim acontecem sempre, algumas vezes com menos ignorância, outras, com a mesma ditadura familiar. Certamente é algo que se torna comum.
Eu não estou condenando os pais, nem fazendo apologia a anarquia dentro de casa. Os pais são as primeiras influências no desenvolvimento sentimental, intelectual e comportamental de uma pessoa. E por isso devemos tudo o que somos a eles!
È engraçado, mas é quase certo que você adote o comportamento do seu velho. O que eu nunca entendi é porque eles demoram tanto para perceberem isso.
Colocam sempre a culpa em você, por ser boca dura, por não ter respeito, e esquecem que o conhecimento de um aluno vem do que o seu professor ensina. Ou que a semente que germina no solo antes foi fruto da árvore que a concebeu. Ou seja, somos parte dos nossos pais o tempo todo!
O que me deixa puto (e me faz xingar pra caramba no Twitter), é que você deve abdicar ao julgamento deles, mas isso funciona de forma contrária, pois quando você tenta empregar isso contra eles (devido a uma certa postura errada que os próprios empregam de alguma forma) agem de forma superior e não aceitam certas criticas de mudança.
A falta da empatia começa nesse ponto. Os pais não sentem os filhos, não se colocam no lugar. Continuam sempre com esse conceito ogro de proteção e ditadura, que no fim se transforma em ausência. E um pai ausente aos sentimentos do próprio filho (e vice e versa) acaba em lamento, discordância e aquela mesma praga proclamada: Um dia você vai ter um filho assim que nem você.
Só que daí eu perguntp: Será que nenhum pai nasce sob a condição de filho? Será que eles nunca contestaram deixando uma unha grande e daí receberam a mesma ditadura ”lar doce lar”? E sempre ouviram a mesma praga que hoje utilizam: Um dia você vai ter um filho assim que nem você?
Parece ridículo eu sei! Porém eu me pergunto todos os dias qual motivo dessa mutação que causa a perda de empatia paterna? E nunca acho uma resposta satisfatória para essa maldição que todos eles jogam em determinada época da vida (“Um dia você vai ter um filho assim que nem você?”).
Eu não sei, se um dia vou ter um filho igual a mim. E se tiver espero que não puxe o meu cabelo!
Só sei de uma coisa, eu não vou me formar em direito. Mesmo fazendo o tipo para ser Juiz por ascendência astrológica. Meu negócio é desenvolver minha humanidade e tentar (fazer o possível) para entender os motivos dos meus pais. Sabendo que um dia vou estar com um charuto na boca e um olhar de espanto enquanto um enfermeira irá dizer:

—Parabéns o senhor é papai!

Então só me caberá perguntar:

—Notou se o cabelo era liso?

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Essência De Amar


São luzes apagadas e um cheiro de almíscar transcendendo cada traço da parede do quarto. Os lábios colados e uma respiração ofegante. Olhos de gato no escuro, retinas que se adaptam com a penumbra das velas . No meio disso tudo vem uma vontade da língua consumir a outra. Necessidade de ter pra si em pele: Eros!

O coração palpita depois disso, no fim, realização... Tranqüilidade na densidade de ficar ali junto, colado no escuro a luz de velas. Compartilhando a inércia do silêncio palpitando cada estado de emoção trajado nas personalidades em conjunto. O mundo não existe fora daquele olhar amortecido. E todos os momentos se tornam um, e ali brilha algo mais do que somente o atrito das peles. A troca de palavras de amor... A necessidade de conversar: Storge!

Então a conversa se desenvolve o cenário brilha na luz de velas e a música dita o que o futuro trará como lembrança de um momento. Nada se diz e tudo se cala para as que as duas bocas novamente se encontrem. No pacto das salivas misturando o gosto e o cheiro de almíscar. Tecendo, o que inspiraria poetas na contemplação de vida.

O jogo dos olhares: Ludus

A sensação divina de elevação: Agápe

E o mundo em três segundos desaparecendo numa respiração alta outra vez: Eros!

No dedo direito a veia corre levando o sangue de modo calmo, rápido e explosivo! A artéria que começa no dedo anelar esquerdo terminando no centro que bomba o sangue de modo vital. Faz refaz, pulsa e o significado se prende acariciando quase minimamente o rosto dela. Pressionando as costas dele. Os átomos explodem em sinfonia de amor: Philia!

O coração pulsa. Os dedos se juntam com as mãos entrelaçadas.

Vivendo de amor

Morrendo de amor em cada instante junto com corpo. Físico, emocional, mental e logo espiritual. Marcado na unha, expressado na lábia, batendo rápido e lento: Tum! Tum! Tum!

As definições se exaltam, acaba-se Ludus. Acaba-se Ágape, Philia e Eros. Resta-se apenas calor de estar junto com sono. Suor rápido que escorre se misturando com o lençol. Se misturando com o aroma do amor.

__________
 
Glossário:

Eros- representa a parte consciente do amor que uma pessoa sente por outra. É o amor que se liga de forma mais clara à atração física.

Storge- É o nome da divindade grega da amizade. Por isso, quem tende a ter esse estilo de amor valoriza a confiança mútua, o entrosamento e os projetos compartilhados

Ludus- O amor que é jogado como um jogo; amor brincalhão

Ágape - amor altruísta; espiritual

Philia - Em grego, significa altruísmo, generosidade. A dedicação ao outro vem sempre antes do próprio interesse. Quem pratica esse estilo de amor entrega-se totalmente à relação e não se importa em abrir mão de certas vontades para a satisfação do ser amado.

domingo, 9 de maio de 2010

Velhice



O primeiro fio era preto, meio transparente... Podia ser contado a dedo. Depois de alguns meses já havia uma ninhada deles. Presa em laço, parecido com um coqueiro balançando ao vento! Passado um ano já podia ser amarrado de várias formas e a empolgação era tanta que de pequenos fios pretos amarrados em coqueiro agora era uma imensa aglomeração de fios castanhos que brilhavam todas as manhãs. Tão numerosos, tão brilhantes lavados com aroma de rosas. Os fios cresciam e eram aparados, médio, repicado muito curto.. Alto demais! E de castanho ficou loiro, moreno até meio avermelhado. E de tanto fio que havia, de tantas cores que oscilava... Foi-se passando a vaidade, a importância de curto, amarrado ou muito longo. Os fios foram sendo padronizados numa estética meio sem graça, organizada para sair de manhã. E mesmo com tamanha mudança, mesmo com padronização a cor que operou o desespero não veio da caixa espontânea, não oscilou... Era natural de efeito biológico, cinza branqueado! Puxado na vertical pelas mãos da filha que sorrindo dizia...

–Achei um branco!

Meio sem graça olhou para trás, lembrou-se da amarra de coqueiro ,do sorriso inocente. Da infância cheia de cachos e da adolescência da pré coloração. O fio branco passava da mão de sua primogênita até os dedos dela que segurava cuidadosamente como um pequeno fio de vida frágil que desbotava quase transparente sob a luz clara do recinto. Com os olhos focados ela analisou o fio branco comparando com a pequena franja de sua filha. Lembrando e sentindo a nostalgia refletir por tantos becos que havia percorrido. De relance contava tantos pentes que foram embora no saco de lixo. Tantos aromas que percorreram nutrindo e limpando seu cabelo.

E ali estava o primeiro indicio de que os anos haviam passado.

Vários e vários meses se materializando numa única data. Num único aspecto fatal para maioria dos seres humanos. O fim da estética premeditada, o código genético das células enviando a mensagem em forma de símbolo. Em forma de signo corporal!

De seus dedos o fio desprendeu, atingiu o ar... Caindo no vazio de uma camuflagem pelo piso. Não se arrebentou, ficou intacto entre montes invisíveis de pó na beira da cadeira. Designando sua a velhice no chão!

Comprovando inevitavelmente que rostos velhos são mais do que imagem que se deparam em nossos olhos diante a rotina.

Mas aquilo tudo não vinha com fim cravado nas entrelinhas.Não vinha como presságio de despedida de tudo. Não! Pelo contrário... Havia vida nova ali! Estágio de mundo novo, de exploração. Recém explorado.

Começando num novo titulo...

O primeiro fio era branco e caíra no chão...O primeiro, só o primeiro!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Do Outro Lado da Roleta



"Antes assassinar uma criança em seu berço que acalentar desejos não realizados"
(William blake, Matrimônio do céu e do inferno).

Eu estava bem até entrar naquele ônibus... Estava satisfeito com todas as coisas que podia estar satisfeito. Havia controlado todos os meus instintos premeditados, havia tirado a melhor nota na prova imprevista. Tudo corria bem, até... Até que eu entrei naquele ônibus!

Quem sabe eu podia ter tido uma vida diferente... Ser alguém melhor com uma nova chance de futuro. Podia comer o que quisesse agora... E não uma comida que sabe lá onde, ou como, foi preparada. Podia usar roupas novas e dormir numa cama só minha. Podia estar com uma garota, uma linda garota de seios fartos invés de uma foto de revista que me propõe só a imaginar.

Sei que esse podia não existe mais.

A gente pensa melhor nas coisas quando elas passam e não voltam mais. (Isso é um fato!).

Depois disso só o que se resta é um monte de “podias” e um punhado de “se ao menos fosse diferente”.

Eu não vou dizer que sou inocente. Assumo a culpa! Simplesmente assumo a culpa. Eu quis pegar aquela caneta e cravá-la até o sangue jorrar alto e respingar no meu supercílio, e foi naquele instante que acordei... Ainda consigo sentir a mesma sensação de alívio junto com aqueles gritos de dor sendo revividos pouco a pouco pelos os olhos esbugalhados e meu coração sujo de ódio, lavado por aquela fisionomia de agonia!

Você nunca pensa que vai matar alguém. Não sei se isso tem a ver com o pensamento humanitário que a mídia introduz através de banners e filmes com finais felizes, esses de fácil entendimento... Entre duas e três piscadas, você compreende: Matar é errado, homicídio leva à cadeia, assassinos são assassinos e pessoas são pessoas, sendo desumano causar uma morte!

Eu não era diferente de você antes de ter cometido um crime (também acreditava naqueles mesmos preceitos) . Fazia as compras no final do mês, trabalhava até as cinco horas e o resto do dia estudava procurando uma vida melhor (Continuamente procurando uma vida melhor!). Com melhores condições e melhores estruturas, com um vale alimentação mais extenso, sempre o melhor quando o melhor já se tem (Por que a gente nunca tem noção disso? Por que não podemos nos contentar quando a realidade não é crua e cheia de colchões pelo chão?)

Nunca tive raiva que não pôde ser controlada, nunca voei no pescoço de alguém por me sentir nervoso. Ou soquei uma parede num ato impreciso de fúria... Nunca! Nunca... Até entrar naquele ônibus! Eu nunca havia assassinado um membro da minha própria espécie antes de subir por aquelas escadas pequenas... E talvez, não sei... Nunca tivesse o feito se não fosse por aquele instante!

As pessoas conversavam no ponto de ônibus, a garoa havia começado de manhãzinha e persistia até a noite.

—Você tem um cigarro?

Uma mulher havia me perguntado quando a chuva aumentou. Eu tinha o hábito de ir para um ponto afastado longe da universidade, onde passavam os intermunicipais (ônibus que cruzavam as outras cidades, mas que também paravam perto de casa). Porém naquele dia eu não havia pego o guarda chuva e estava me curando de um resfriado. Então achei melhor ficar ali mesmo e esperar o ônibus que demorava mais, no entanto também me dava acesso ao bairro em que eu morava.

—Desculpe, eu não fumo! —Tentei responder cordialmente a mulher—.

Pensando agora eu nunca tive vícios. Nunca gostei de bebidas ou cigarros. Minha tranqüilidade estava em correr de manhãzinha, ou atravessar uma trilha calmamente perto da serra. Era calmo, antes de... Deus! Eu era calmo!!!

—Você tem horas?

A mulher me perguntou novamente, depois de alguns minutos. Quando eu observava as gotas de chuvas refletidas no farol dos carros que avançavam pela curva.

—Doze para as dez!

Era inevitável que ela estava dando bola pra mim. Apesar de mais velha, ela tinha um corpo atraente e uma fisionomia que não era de se jogar fora. Eu devia ter corrido no camelô da esquina e pedido um maço de cigarros acompanhado de um pacote de camisinhas. Devia ter largado a timidez de lado, puxado a mulher de quanto, deixando com que o calor de nossos corações servisse de condução até um motel de fim de noite. Longe daquele ponto. Longe de qualquer ônibus onde pudéssemos fazer sexo até o último entreter. Entretanto fiquei em silêncio preocupado com o pouco tempo que havia me sobrado para estudar a matéria chata de filosofia para a prova do dia seguinte.

Assim que desviei o olhar da mulher para observar a chuva numa ansiedade de quem está esperando, vi as pessoas se movimentarem formando uma fila aos avessos. Alguns cortavam, outros apenas esperavam como eu. E o ônibus estava lá! Parado sinalizando em neon laranja os locais por onde passava. Na medida em que fui chegando perto do veículo, notei uma lama aglomerada entre as rodas. As gotas de chuva escorrendo pela lateral se misturando pouco a pouco com a poeira mal lavada na lataria. E aquele aspecto metálico rufando com o barulho do motor... Aquele seria o começo do meu pesadelo.

Tirei o cartão de passe da mochila e fui sendo conduzido pela fila de um modo quase mecânico. Modo que me lembrou como as vacas entram em fila, tímidas e sem expectativa a caminho do matadouro. Acostumadas pelo ambiente, perdem o instinto animal e não pressentem o perigo, assim como não pressentem nada além da função de reproduzir e comer. Ventou quando entrei no ônibus, um vento frio quase fantasmagórico. Ajeitei a mochila no ombro ainda esperando algumas pessoas passarem pela roleta. Cada uma delas pegava o cartão e pressionava contra o pequeno painel azul que ficava fixado entra as hastes acima da roleta que ficava em baixo, no meio, dividindo o ônibus entre frente e trás.

O cobrador era um cara com sono, apenas verificava com o canto direito do olho se tudo corria bem enquanto a roleta liberava a passagem automaticamente. Desejando no fundo de sua real preguiça que ninguém pagasse em dinheiro e o forçasse a se mover por alguns instantes para apertar um botão mecânico que fazia a liberação. O barulho de liberação da roleta evidenciava pra mim uma sociedade motora, composta de pessoas de óculos e livros na mão. Um sistema de faculdades e concursos públicos, motorizado, agindo conforme a programação geral, ritmando, ressarcindo, controlando e sendo controlado a todo instante pelo capital.

Uma sociedade que eu só observaria outra vez pelas folhas do jornal.

Chega a minha vez, estou com o cartão de passes na mão, faço o mesmo ato robotizado e duas campainhas apitam. É um som diferente do que já havia sido tocado para os outros. Forço minha barriga contra a roleta, pensando que ela estivesse sido liberada automaticamente, mas ela não se move...

—Passa de novo!

Resmungou o cobrador sem mudar a postura. Fiz o mesmo movimento com o cartão e nada! O mesmo som, a mesma roleta que não girava, o mesmo olhar irritado do cobrador. Três, talvez quatro ou cinco tentativas e ainda a roleta permanecia parada. Uma fila se estendeu atrás de mim. Pessoas bufando de impaciência, outras gritando no lado de fora dizendo que queriam entrar logo e sair da chuva! Senti uma gota de insegurança transcorrer pela minha axila. Perdido, peguei a carteira e contei as moedas. Míseros centavos e uma nota de um real que palpitavam numa fé cega de chegar ao valor exato ou ultrapassá-lo... A última moeda escapa dos meus dedos e tilinta no estranho carpete plástico do ônibus.

A fila se estende mais, sei por causa das vozes altas que reclamam: Indignação, falta de paciência tudo aglomerado num dia chuva (as pessoas ficam piores quando se molham). Eu não acho a moeda, meu desconforto vira agonia. O mundo está contra mim, o ônibus está contra mim! Sinto todos os bancos, todas as cordas pretas, todas as poltronas... Tramando contra mim, Onde estava a moeda? Eu não sabia! Como não sabia o que me esperava depois da roleta. Um passaporte para algo que certamente eu não queria ir. Se eu tivesse um pouco de fé nas coisas que não podem ser ditas, se tivesse uma percepção exaltada sobre o destino... Eu poderia descrever o ato de meu cartão ser recusado pelo sistema do ônibus, assim como as vaias dirigidas a mim como um sinal de “não ultrapasse”...

Mas eu ultrapassei!

A decisão foi instintiva, deixei de procurar a moeda. Peguei o cartão outra vez e o encostei no painel azul... Minha força, minha vontade de passar para ou outro lado do ônibus veio com um som monofônico e logo a catraca se mexeu. E eu ultrapassei! O outro lado oposto da roleta não era muito diferente do anterior, as mesmas cadeiras, o mesmo chão de plástico e algumas pessoas entretidas com a paisagem da janela. O ar parado fez com que eu tossisse. Aconcheguei-me num banco ao lado da janela, abracei a mochila como sempre fiz e esperei que o ônibus iniciasse sua rota. As pessoas entravam, devagar, com muita pressa, com pouca pressa, mas ninguém ficou estagnado na roleta como eu fiquei.

Abraço a mochila novamente numa noção de afeto perdido... O último abraço que tive não veio de um ser humano cheio de pele e calor. Mas sim de um objeto envolta de tecido sintético, rústico que cheirava a algo próprio... Alguma coisa me lembrou naquele momento o cheiro de água e carro novo. Tudo misturado num último abraço. Você nunca imagina que vai sentir falta de coisas tão bobas como abraçar sua mochila voltando pra casa. Ou a sensação de largar os sapatos se sentar no sofá. Comodidade, casa, afeto, essas coisas fazem falta quando as tiram de você!

Quando reparei a porta da frente havia fechado, todas as pessoas já haviam se agrupado no ônibus. E o veículo seguiu o seu caminho. O primeiro indício de que as coisas não iriam ser agradáveis veio de uma gargalhada atrás de mim. Algo que invadiu meu inconsciente e me requisitou um frio na barriga. Era um riso sarcástico, zombeteiro e familiar para o meu desagrado. Minha esperança era que aquilo fosse apenas uma ilusão do passado, mas foi perdida quando virei o rosto procurando o mandante da risada. E o vi! O mesmo traço imbecil, a mesma cara de arrogante que me lembrava de anos anteriores. Arrumei a postura e fiquei na minha. Cocei o olho num “tick” de maneira que algo estava me incomodando. Ao certo era a presença dele. Olhei para janela outra vez, um trânsito lento, carros engarrafados. A viagem seria longa. Eu estava agradecido por ele não notar a minha presença. O barulho da roleta girando me fez olhar para frente, uma moça de olhos claros fechava o guarda chuva e procurava um lugar para sentar. Perdi-me olhando para as curvas dela e quando havia esquecido minha existência completamente escutei um:

—Oh! Gostosa, senta aqui do meu ladinho, senta?

Aquilo me fez morder lábios, a mesma voz de antes. O mesmo carrasco da risada. O idiota da poltrona atrás que por desprazer conhecia melhor do queria conhecer! Brotava insatisfação dentro de mim.

—Com licença!

Meus lábios cerrados foram amortecidos quando vi que a moça sentara ao meu lado. Deixei a mochila no chão e sorri para ela. Minha face ficou quente, ela me olhava. E por um instante me esqueci outra vez dos traumas que aquela risada me trazia. Senti insegurança por estar sentado ao lado de tamanha beldade.

—Ah! Me desprezou! Para sentar com esse idiota. Gatinha, ele não gosta disso!

A moça ficou quieta e eu mordi lábios de novo. Aquele trauma veio à tona quando olhei pra ele outra vez. Aquela cabeça que pra mim não passava de uma cabeça deformada. Um crânio grande demais para um pescoço pequeno, o modo como ele como usava um boné para esconder o cabelo pixaim que crescia dos lados. Aquilo me irritava! Tudo isso não havia mudado, anos antes na escola e era o mesmo imbecil. Minha primeira defesa fora ignorar a existência inútil daquela ameba que ria sarcasticamente. Ignorei, mas ele tinha aquela mesma crise de melancia. Aquilo de querer aparecer tirando com quem fosse. Bastava estar acompanhado (e ele estava). Tinha outro cara, outra ameba que ria das merdas que ele falava. Eu apenas o ignorei enquanto a moça balançava a perna em sinal de apreensão. Aquele cara, por que ele não podia ficar quieto?

Eram muitas vozes dispersas, a maioria que voltava naquele ônibus eram estudantes ou saiam do emprego. Vários grupos conversando, porém mesmo assim a voz do idiota era algo que nem os sons das outras vozes podiam silenciar. Ele estava na poltrona de trás, relinchando como um asno velho. Ele havia esquecido a menina, e agora encarnava em mim... Havia me reconhecido de quando estudávamos juntos no colégio. A oportunidade perfeita para ser escutado pelos outros.

—Tá ligado aquele professorzinho da escola... —Dizia ele depois de um “há há” cínico— Então, aquele cara ali —dizia apontando pra mim e ridicularizando meu nome— se trancava no banheiro do professor, aquele professor bichinha saca?

Minhas entranhas se contorceram, aquele filho da puta estava me difamando através de mentiras abusivas. Era a mesma coisa no colégio, os mesmos apelidos e tudo mais. E continuava sempre acompanhado dos risos. Aquilo o motivava, aquelas risadas era a sua “deixa teatral” para continuar a piada. E meu silêncio provava que aquilo era corrosivo. Não era a fala, ou, a gozação, ou até mesmo a garota do meu lado. Mas o fato de ninguém fazer nada. Droga! Eu agüentei aquilo na sala aula durante um ano na adolescência. E agora depois de vários anos nada havia mudado! O mesmo idiota me difamava, eu tinha que tomar uma providência... Do que vale a pena ter amadurecido, ter formado barba se certas coisas não mudam?

—Sem contar a vez que cortamos o cabelo dele... O babaca nem reagiu! Só ficou chorando. Chorãoooo! Chorão!

Os risos aumentavam e o suor invadiu meu rosto.... Me senti com dezesseis anos! A professora me elogiando na sala de aula. A melhor nota, o melhor comportamento. O sinal do intervalo batendo... Meu rosto cheio de espinhas, meu corpo sem definição. Aquele dia era harmonioso, eu não estava triste pelas tirações de sarro. Eu não estava triste por ter me mudado para uma cidade desconhecida e deixado todos os meus amigos em outro estado. Por algum motivo além dos meus óculos e da minha pele oleosa, uma garota linda me aguardava perto da cantina! Nunca havia ganhado um beijo antes de alguns dias atrás. Por isso me sentia eufórico, cheio de orgulho! Corri pelos corredores pensando que as coisas iam melhorar, subi a última escada senti algo na minha frente... Tropecei e caí de joelhos no degrau de ferro! Quando ia me levantar ouvi aquela risada sarcástica. Dois caras me agarraram, tentei me defender... Eu chutei o ar, fiz força. Gritei alto... Mas eles eram mais fortes... E riam! Mordi o braço de um deles, por sobrevivência e não por raiva. Ele me largou e logo senti um chute na minha virilha. Xingamentos e mais um chute... Eu senti dor, e escutei o barulho de um motor a pilha! Típico som que ouço quando vou ao cabeleireiro... Metade do meu cabelo é cortado, raspado, inutilizado. Me senti impotente e minha virilha ainda doía. Ouvi o grito do inspetor, eles correram! O inspetor me levantou e perguntou se estava tudo bem... Eu olhei pra ele ao mesmo tempo que notei que minha camisa estava toda suja com bolos do cabelo morto. Não agüentei, eu chorei... Eu choro! Por sentir desprotegido, por sentir o inferno na carne. Por ter espinhas na cara. Por não ter conseguido sequer me defender. Ele chamou a faxineira e os dois me levantam e levam-me até enfermaria...

Estou chorando quando os outros alunos se amontoam para me ver... Risos! Me sinto cercado por abutres que dissecam a minha carne. E eu a vejo, a garota por quem meu coração suspira... Está assustada, bloqueada por toda aquela massa de alunos sedentos de curiosidade. Eu abaixo a cabeça, sei que eles fizeram isso porque ela gostou de mim desde o início. Sei Que aquele imbecil estava dando em cima dela desde o começo do ano letivo e ela me escolheu! E ele não podia perder... O meu cabelo, as escoriações não são nada. Perto daqueles olhos dela de lamento. Ela sabe, foram eles. E eu abaixo cabeça e continuo a chorar! Me sinto abusado, perdido e envergonhado por ela me ver assim.

Ela sente culpa, ela também chora!

Depois de alguns dias peço transferência. Ela liga pra mim, eu não consigo atender. Estou trancado no quarto, não vejo justiça. Sou o adolescente mais complexado que existiu. Perdi minha garota, sou um fraco!



—Vai gostosa, sai desse banco com o chorão e vem pra cá... Vem?

“Você superou” tentei repetir essa frase. Meus punhos se fecham, já não agüento mais o tranco daquela risada. Penso se não existe nenhuma lei por rebaixar alguém num veículo público. Assim como seis anos atrás, ele vai sair imune (ao menos até que eu faça alguma coisa). Queria não passar por isso, queria apenas ficar na minha e não ser atingido por aquelas palavras. Ser outra pessoa! Queria ter sido forte e não ter deixado que meus pais tomassem o ato de me trocar de escola. Naquele momento eu queria respeito, me sentir íntegro e não violado por falas sem sentido por um imbecil sem intelecto. Dizem que você não deve ligar! Dizem que a melhor arma é ignorar o que te ameaça, o que te deixa mal. O que te incomoda e o faz lamentar... Mas isso não cessa, até você tomar uma atitude!

Assim que olhei todos aqueles olhos, assim que vi todas aquelas pessoas do ônibus me olhando sem reação, apenas esperando eu tomar um ato. Algumas riam junto com o idiota, e corroíam minha razão. Olhei pra moça que estava no meu lado, a cara de desgosto dela. O medo que ela sentia de reagir a ele... A forma com que ela parecia tão abusada quanto eu! E ninguém agia... Ninguém! Os abutres só que mais velhos e em outro ambiente. A moça me lembrou daquela mesma feição que abandonei na escola. “Minha garota foi embora! Eu sou o adolescente mais triste, trancado num quarto!”

Abraço a mochila de novo, fecho meus olhos... Desejo ter super poderes. Desejo virar vento e ouço o tilintar de moeda no chão! Olho em direção aos meus pés e vejo a moeda que perdi, não faço idéia de onde ela surgiu, se caiu da mochila ou o ônibus a atraiu. Agacho pra pegar a moeda enquanto o idiota ainda fica rindo, rindo e rindo! Movo meu pé e tem algo solido ali, levanto o pé esquerdo e vejo uma caneta azul, meio rachada devido à força da minha pisada contra o chão. Seguro a caneta, o ônibus freia... O barulho da campainha evidenciando que alguém irá descer no próximo ponto soa. Olho para o meu lado e a moça não está mais lá, ela levantou correndo. Parece que o idiota a perturbou demais.

—Ei gatinha, desculpe!

Ele avança para segurar sua mão.

Olho ao redor e ninguém se levanta. Ninguém presta atenção nos olhos da moça, ela está chorando. E ninguém está nem aí. Ele continua avançando com aquela mesma risada. Meus dentes trincam e meus olhos fecham.

Meu corpo parece que vai explodir.



As risadas, o cabelo caindo, o chute no estômago, aquela voz fanha... As lágrimas dela.

—Meu deus!

Alguém grita no fundo.

—Jesus!

Mais um grito!

E o sangue escorre nas minhas mãos. Sorrio, porque vejo nos olhos dele: dor. Sorrio, porque escuto ele tentando respirar. Sorrio porque a caneta está atravessada no seu pescoço e ele não pode mais rir de mim, ele não pode mais fazer ninguém chorar. Definitivamente ele cala a boca. Ele cai no corredor das poltronas. As pessoas ficam em silêncio, o sangue jorra. O amigo dele olha pra mim e corre: medo! A moça olha pra mim e põe as mãos no rosto e grita. Medo.

—Assassino!

Grita o cobrador.

A histeria do ônibus se agita as pessoas correm para porta para sair e pisoteiam o idiota. Fogem de mim. Acham que vou fazer o mesmo com elas, pois as minhas mãos estão cobertas de sangue e eu estou calmo, estou tão calmo. Contudo, no fundo me sinto triste. Pois sei que nos olhos delas eu sou o psicopata, o criminoso. O cara que fez o ato! Ninguém, nem mesmo a moça entendeu que meu instinto foi de auto defesa.

—Eu não quis matá-lo! Só queria que ele calasse a boca!

Repito quando um dos policiais me perguntam. É claro que eles não entendem o que aconteceu. Não entendem, o que eu digo sobre as risadas sobre o comportamento dele com a moça.

Eu sou o assassino porque segui meus instintos de defesa, os mais íntimos. Sou um assassino porque passei pela roleta e conheci o outro lado do ônibus. Sou o cara o mal porque fui instigado, puramente instigado pelo ônibus, pelo sistema, por ter tomado aquela atitude. Sou assassino por ter passado por isso antes e não guardar rancor. Por ter superado todas as minhas tensões. Esperando que o mundo mudasse e que pessoas como ele evoluíssem com o tempo.

Estou preso, isso não é uma novidade. Peguei vinte cinco anos, por homicídio qualificado. Preso em flagrante. Ninguém testemunhou o contrário, nenhum passageiro disse que a circunstância do ato ocorreu pela provocação daquele cara. Ninguém acreditou no que ocorreu na escola. Não haviam provas. Ninguém ficou do meu lado mesmo as pessoas daquele ônibus.

O ônibus...

Fora ele o percussor do meu destino. A força misteriosa que me deu a oportunidade de limpar da consciência daqueles abusos. Fora ele que me trouxe a caneta.

O ônibus foi o culpado pela morte do indivíduo tanto quanto eu!

Meu único arrependimento está na carceragem. Na minha liberdade interrompida. Se não fossem as circunstâncias eu não teria cometido o crime! Se na fossem as circunstâncias eu jamais teria entrado naquele ônibus.

Se o mundo fosse um pouco mais cooperativo, se ao menos as pessoas vissem os meus olhos de dor naquele exato momento. Se alguém obrigasse ele a descer.

Nada disso teria acontecido. E o assassino não seria eu. Só que as coisas são assim, tem dias que você é assassinado, e em outros dias você é obrigado a assassinar. Ninguém comete um crime sem razão, pode ser o mais breve, o mais impulsivo... Atos bestiais, pervertidos. Um crime sempre vem de uma reação. No meu caso, uma reação antiga, latente... Perdida num quarto fechado e em um rosto triste.

Só quero dizer que nem todos que praticam um ato desses são inteiramente culpados. Afinal, eu estou aqui, e pago a minha sentença todos os dias!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Se o fim viesse


This is the end...beautiful friend!
This is the end, my only friend, the end...
Of our elaborate plans, the end!
Of everything that stands, the end!
No safety or surprise, the end"

(The Doors: The End)

O que você faria se todos os relógios parassem? E o tempo não passasse de  um aglomerado de histórias velhas sobre ampulhetas de areia?

O que você faria se soubesse que suas roupas não passam de tecidos triviais?
E o que na verdade expressa sua opinião é aquilo que está lá dentro... Que não tem haver com idade, pretexto, ou, razão?

Se o fim viesse!

Será que a chuva cairia sobre os teus ombros de outra maneira? E você se irritaria do mesmo jeito quando  molhasse a barra da calça, ou , por esquecer o guarda chuva em alguma estação?

Se soubesse... se apenas soubesse quando tudo vai acabar! Será que viveria como se fosse o último minuto se os minutos apenas não existissem?

O que você faria se olhasse seu rosto no jornal, se fosse vitima de um atentado dentro de um avião?
O que você faria se passasse horas e horas largado num saguão?

Se o tempo acabasse com quem você queria estar? Com quem você poderia estar? E será que essa pessoa teria alguma opinião?

Se hoje fosse o fim!

Teria a providência de pensar que os últimos segundos poderiam ter sido os mais importantes? Se você soubesse, o que fária  na última tomada daquela decisão?
Se soubesse, se apenas soubesse que tudo acabaria! Será que viveria como se fosse o último minuto se os minutos sequer não existissem e o perigo estivesse no último refrão:  Nada... Nada! Nada  não!!!

Diria eu te amo? Ou correria em abandono?Quem você desejaria então que segurasse a sua mão?

Fadado ao último dia passar! Repetindo escolhas, devendo atos! Sem prestar... sem prestar a devida atenção!

Se este fosse o fim, então qual seria a sua reação?

domingo, 21 de março de 2010

Nome composto ao luar!



De relance a lua brilha, todas as noites ela brilha  acompanhada pelas estrelas forrando o céu numa escala prateada. Estou Longe, bem longe de casa.

Milhares de pessoas acordam na outra ponta do mundo. Preparam o café da manhã, escutam os carros andar. O mundo gira e cresce, nasce milhões... Falecem bilhões.

No mundo só no mundo.

Ganhei um nome dos meus pais! Escrevo ele todos os dias na lista da chamada. As vezes alguém acha que ele é composto e tasca lá meu nome do meio. Parece frase pontuada quase um monologo prolongado. Só o nome composto... Apenas o nome composto!

È difícil ter um nome do meio parecido com nome duplo. Tipo um Carlos Eduardo, ou um Joaquim Fernandes.

Se pudesse me dava um nome indígena tipo Lobo uivante.

Tanta gente no mundo, tantos nomes de santos... Qual é o peso do meu perto de tantos deles?

As vezes eu me esqueço de como me chamo. Daí assino apenas a primeira letra. Gosto do meu sobrenome, ele é meio comum, mas tem essência... È de poeta.

Tive alguns apelidos, mais só um deixei que sobrevivesse. È diminutivo e as vezes me deixa constrangido, é algo com menos de cinco letras meio parecido com um som fonético. Me faz lembrar a infância, é quase inconsciente é quase como ter nove anos ainda e casquinhas no joelho.

Se pudesse deixava meu nome e escrevia só meu apelido.

De todos os nomes e apelidos, eu sinto falta de um verbo.. Um único verbo. . .

E por isso retomo a lua... Só por isso que desejo as estrelas!

Quero voltar para elas! Só até o mundo girar aqui embaixo, só enquanto o mundo girar aqui embaixo.

Para o céu, até lua... De volta ao meu lar!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Vertente Parisiense


E o frio entrou pelo portão e pelo jardim, remexeu as plantas... Entrou pelas janelas, dizendo que era o fim do verão.
 Meus pés ficaram gelados, minhas pernas tremeram e meus lábios racharam desde então. O café esfriou em cima da mesa, moldando um circulo perfeito sobre uma folha...Já não tenho a mesma idade, já não é a mesma estação.
Mas o frio sempre é o mesmo!
Aqui o clima não é parado, aqui a garoa deixa uma névoa tristonha pela manhã, esfriando na medida que avança pelos bairros. E lá no horizonte ela fica estagnada como uma fumaça alvejada, o hálito branco passando pelas montanhas.
Tem gente que diz que parece Londres, tem gente que apenas pega uma coberta se senta no sofá e assiste uma partida de futebol qualquer reclamando do frio. Tem gente que só reclama, seja o tempo que for, esteja muito frio, ou muito quente.
Atmosfera parisiense pra mim...

Cheio de ruas de paralelepípedos, e cafés de cadeiras altas.
Bilhetes de eu te amo e um amor a moda francesa. A torre Eiffel ao sul e um cigarro Le Gastón nas minhas mãos... De longe uma garotinha come pipoca correndo atrás dos pombos , o ar frio faz com que eu ajeite o cachecol verde, daqueles tricotados a mão que roubei do guarda roupa do meu pai. O garçom substitui a xícara vazia por outra cheia de chá... Agradeço com um “merci “seco. E volto a escrever sobre as linhas do caderno, apago o cigarro no cinzeiro . Sublinho a última a frase e levo um gole de chá até a boca... È de maçã, e falta um pouco de açúcar. Mas não me importo, só quero permanecer quente para desenvolver esse texto até o último parágrafo. A garotinha que corre em circulo tropeça  caindo de cara no chão, os pombos voam e a pequena se levanta com uma pipoca colada na testa e começa a berrar! A mãe logo aparece para socorrer a garotinha dizendo no idioma que mexe com meu interior em cada fragmento. Eu paro de escrever, noto cada palavra que a moça diz para a pequeninha... Cada” Mon petit”, cada, “t'aime, mon amour!” causa algo inexplicável ao meu corpo... Algo que só o frio era capaz de causar!
Já não me prendo ao meu texto, ou ao chá que esfria rapidamente na xícara.

Eu começo a contemplar a velha cidade involuntariamente, a moça beija a testa da garotinha e eu permaneço ali no frio, sentado na cadeira com o mesmo cachecol passado entre o pescoço, no meio da velha Paris. Ouvindo o idioma do romance, mas eu não tenho aliança no dedo. Não tenho palavras doces a ofertar e nem mesmo os versos que escrevi no caderno tem algum sentimento de romance empregado!
O frio me deixa romântico, o frio me leva até Paris, mas no fim não adianta muita coisa, não adianta porque só tenho histórias tristes de taberna suja, passado em folhas de coração partido!

E o que é Paris sem estar do lado de alguém que se ama? O que é Paris sem ninguém para amar?
A cidade perde o gosto, como a vida também fica sem gosto quando se pode dar um buque de flores e não ter nenhum  destinatário!
E o frio continua a entrar pelo jardim, passa por mim, mexe as cortinas e pede um agasalho acolchoado e um copo de chocolate quente... Já me perco nas minhas vertentes, já não tenho mais açúcar. Já não estou mais em Paris... Acho que nunca estive. Acho que nunca amei ninguém, talvez nunca tenha bebido chocolate quente. Ou entregado um buque de flores antes na minha vida. Não! Eu nunca entreguei.
Acho que não acho mais nada. Mais o frio ainda entra pelas cortinas, e me dá esse Q de romanesco.
Paris?

Paris foi um sonho... só um sonho perdido de alguém querendo alguém!
E eu me subscrevo sem querer...

Saudade, espera... Qualquer coisa.
Droga! Também não foi você.

Au revoir chéri.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Virado no cão



Hoje eu to decidido a correr, pular a janela igual filme de ação.
Hoje eu não to ligando muito para controle emocional, se eu pudesse pegava imenso galão de gasolina e metia fogo em tudo.
E se alguém falasse alguma bosta eu atirava na testa com alguma automática que abrisse buraco em concreto.

To em estilo Quentin Tarantino.
To soltando fogo pelos olhos.

To mais puto que o Zidane dando cabeçada pra frente. Pior que torcida do São Paulo tretando em fila de estacionamento.
To querendo empalar, trucidar, matar esquartejar mijar e depois ressuscitar para fazer tudo isso de novo.

Hoje, exatamente hoje que eu to afim de correr, pular a janela igual filme de ação.
E se alguém falasse alguma bosta eu acertava uma voadora com os pés nos dois peito. Sem cair no chão.

To virado no cão.
To pior que o Bruce Lee.

To parecido com o Rambo, destroçando tanque com o dente!
To plantando bananeira com uma mão.
To usando óculos de gangster, parecido com o scarface.
To mascando pimenta em chicle de menta.

Hoje eu to com vontade de mandar to mundo pra puta que pariu.

Hoje eu to decidido a correr, to decidido a morder, to decidido a arrancar um pedaço.

Estilo Quentin Tarantino... Estilo Bulldog inglês caçando no mato.

To virado no cão e isso é fato!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Uma constelação para ser salvo II (conclusão)


"Estamos vivos sem motivos
Mas que motivos temos pra estar? "
 (Infinita Higway, Engenheiros do Hawai)

A primeira coisa, quando você tem a nítida certeza que vai morrer, são os olhos centrados, e a sensação de adrenalina que faz todo seu corpo transpirar. Então não há mais nada que passa pela sua mente, se não um leve conforto causado pelo vento, que toca sua face.
Ainda existe o perigo, ele acelera seu coração faz com que seu corpo fique quente e o sangue siga fluindo rapidamente por todo canal, até chegar num ponto que te dá uma impressão que tudo estava dormindo antes do  ponteiro apontar oitenta, noventa e agora  cem.

Torpor e Velocidade.

O ar fresco que entra pela janela, molda seu cabelo num aspecto de liberdade. Uma curva, duas, e a terceira é tão fechada que a sua consciência mal acredita que é você que está dirigindo.

"Engraçado".

Você pensa! Teus pais negam o carro e mal sabem quais são os teus limites de piloto. Na verdade, eles mal te conhecem desde que você veio ao mundo e aprendeu a usar o banheiro. E mal sabem que agora você dirige igual gente grande, atravessando uma paisagem noturna, sendo guiado por placas de curvas acentuadas, amarelas e com faróis que te seguem em alta velocidade à esquerda.

A vida faz sentido de novo, é tudo muito claro, apesar de muito escuro. E você entende a teoria das folhas presas nos galhos das árvores. Seguras e cercadas de outras folhas, que um belo dia são forçadas a irem embora levadas pelo vento a voar por caminhos desconhecidos. Elas abdicam a proteção de tudo e partem para vida, até que o tempo cesse sua viagem. Então elas endurecem e quebram-se em pequenas partículas. para um novo dia unir-se  novamente ao vento.

Eu entendo as folhas, mas não entendo a falta de liberdade que temos.

Chego em meu destino, a estrada e o perigo estão longe, atrás numa colina grande de sombras formada pela própria noite. Paro o carro no acostamento, meus amigos querem ver o mar. Todos nós somos folhas, e a estrada é o nosso vento. A sociedade,  nossa árvore, que variavelmente temos de largar para trás, pegar um carro e sumir no horizonte e brincar  que estamos livres para no dia seguinte voltar. Porque ninguém é realmente livre neste sistema. Somos todos presos à alguma coisa.
Chegamos, e logo pisamos na areia, ela é fofa e o som das ondas ainda me acalma. Tiro minha camisa e vou pouco à pouco sendo submergido pelo mar, deixo que a correnteza me leve. O mar está noturno, tão vivo e grandioso que me faz sentir vivo também. Eu deixo que as ondas me cubram. E as estrelas me cercam de novo, elas estão refletidas nas águas, expostas no céu e no mar.
Acordei de um sono profundo. Sei disso, só agora. Quando uma onda vem com força e empurra meu espírito de volta.

Retorno  à superfície, balanço o cabelo e respiro profundamente. Poderia morrer agora, e estaria completo. Já que tenho certeza que minha existência foi plenamente vivida.

Se fosse embora agora, tenho certeza que meus professores saberiam que mesmo não sendo um aluno modelo, eu fui o mais dedicado, simplesmente agradecido pelo ensino que me mudou.
Sei que meus pais saberiam que todas  mentiras que omiti de lugares perigosos que fui, foi somente por pura preocupação, para  não causar preocupação.
Eles me perdoariam. Sei disso, pois fizeram o mesmo na minha idade. Seguindo cada mistura, cada principio que viram viver em mim.

Dos meus amores que não tive, guardaria o amor próprio. Que bate feito uma percussão acelerada no meu peito neste instante. Então eu poderia ir, sem ficar desapontado por não amar ninguém, pois eu amo. Amo a vida
!E dos amores que tive ficaria feliz. Sabendo que todo carinho que entreguei, foi deveras verdadeiro. Assim poderia partir dizendo que amei profundamente, tendo compartilhado a minha alma em cada lábio que beijei, em cada carta que escrevi. Cada fala de saudade. Acho que assim eu viveria para sempre, nas ondas, nas apostilhas e nos corações de quem cruzei.

Tenho certeza que meu único arrependimento seria de não poder mais sentir tudo isso outra vez.

Digo até logo ao mar. Digo até logo, pois eu sei que mesmo estando pronto para dizer adeus, eu quero viver mais. Sentir as estrelas sobre mim, e brilhar como uma constelação, e assim ser salvo, como tantas vezes fui.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma constelação para ser salvo I (A sensação)


"Qual foi a semente que você plantou?

(Legião Urbana,  Eu era um lobisomem juvenil)

Parados no alto da avenida, os carros passam muito rápido, e eu já não posso acompanhar. A garrafa de uísque escapa da minha mão e cai derramando pela calçada, o liquido vaza espirrando na minha calça. Eu deixo cair, deixo que derrame, deixo que a garrafa seque longe de mim.

 Os caras discutem sobre a falta de lugar pra ir, eu apenas balanço a cabeça dizendo que não posso dirigir agora. Recolho a garrafa vazia, meu corpo está Rock and Roll, balançando pra lá, e pra cá. 

Sem querer um grito sai da minha boca: 

Oh! Os anos sessenta!!!! Que vontade dos anos sessenta!

Os caras ficam em silêncio, eu fico em silêncio, e no fim só o que permanece é o som dos carros na avenida.

Os caras  estão todos bêbados. E todos de algum modo pedindo para serem salvos de alguma coisa.

No intimo eles são como crianças indefesas, carentes ansiando desesperadamente o seio de uma mulher. Procuram seguir em frente ambicionando qual dos passos diminuem a corrida. Sempre estamos  juntos com a juventude entalada na garganta. Juntos relembrando a pouca juventude que passou, dividindo as mazelas do mundo entre si.

Falamos sobre os amores que não deram certo. Falamos sempre das mulheres que nos deixaram, ou das mulheres que queríamos ter, mas não tivermos. Todas as noites de domingo, jogando  conversa fora. E desde então, vejo eles rirem como se o dia durasse apenas mais alguns segundos, e no fim a hora parasse ali, no mesmo dia.

Penso em algumas pedras de gelo no copo e uma garrafa de uísque aberta. O ruim do alcoól é que algumas vezes ele faz a melancolia desabar na linha da boca. E não importa qyão homem você seja se for exposto pelo aroma alcoólico da vida, vai desabar  na mesa como um garotos chorão que perdeu a mãe! O álcool torna as pessoas mais suaves sem nenhuma dificuldades para chorar. No fim tudo não passa de um drink em memória da esperança. meio  perdida, meio esperada. 

De volta a velha garagem coloco gelo no meu copo, apenas gelo pra ver se a coisa desce com menos fúria. Pego o violão e vou me sentar sozinho a beira da piscina. Ninguém percebe minha ausência na mesa. Estão entretidos com doses e doses de bebida e contos de autoconfiança ,que eu não tenho.
Eu passo pelo o pé de amora, há muito tempo eu peguei algumas e amassei num copo de rum. Eu tinha um coração fervente, um coração em fogo vivo e o mundo era o meu playground. 

Tudo desaparece tão de repetente, penso,olhando a água parada na piscina. Vejo o quanto tenho em comum com o lodo que cresce na margem. 
Afino as cordas do violão,e começo a cantar para as águas escuras da piscina. Começo a cantar para a lua que aparece iluminando os acordes dificultosos que eu ainda não domino bem, e com uma voz rouca e desafinada eu faço a canção aparecer.

Cantando aqui, penso que cresci envolta de partituras que eu nunca soube ler. Cresci fantasiando eras clássicas e vomitando épocas underground que eu nunca vou viver, afinal minha alma é uma mistura desses uísques baratos e Rock de rua.
Minha alma é entupida de tantas coisa que derramam lágrimas. Minha alma na depressão noturna, num beco encardido caída nas vielas de uma cidade interiorana tão afastada de tudo.Se afogando no encalço de uma piscina parada. Numa época que na verdade não entendo nada!

O céu parece distante daqui, estiro meu corpo na parede e deixo o violão no meu colo. Não é a primeira vez que observo o céu sozinho. Essa distância do céu podia parar de existir, daí podíamos tentar ser como constelações. Brilhar perto da ursa maior, guiando algumas pessoas caso precisem de rota. 

Se alguém está perdido automaticamente procura o céu. Somente quem está perdido busca o caminho do céu, Procurando algum traço na palma de Deus, tentando ler as linhas dos cosmos. Nessa eterna quiromancia dos firmamentos.

Eu peço por meus amigos, peço por exatidão. Peço por meu destino, e pelo destino de quem me cerca. Peço para ser salvo!
Um pouco mais disso! E então eu posso dormir quieto. Abraço o violão e caio por ali mesmo. Vou caindo ainda escutando a música na minha cabeça, ainda olhando para piscina. Ainda ouvindo os meus amigos rirem bem alto. Eu caio e fico por ali mesmo.
Imagino o mundo, imagino o céu. Imagino Deus numa constelação egípcia,  em uma grande constelação brilhante perdida no espaço.

Uma vez eu pensei que Deus fosse uma semente, pensei tanto que usei no pescoço como símbolo de confiança. Usei como equilíbrio que me faltava, sempre que precisava de apoio. Sempre que precisava ser salvo por me sentir desamparado, recorria aquela semente.
Eu gostava dela, gostava de olhá-la. Não era mais um símbolo, era o meu símbolo a minha crença de estar vivo!
Algo que pudesse lembrar quando os caminhos fossem pesados, afinal as sementes só germinam quando bons frutos morrem, é o ciclo natural.
Certa vez encontrei alguém de quem gostei muito, e como prova de afeição ofereci uma semente igual a minha como presente... Assim podíamos ser partes da mesma essência. Romântico demais para ser verdade (e não foi!)...  Depois disso, fui perdendo pouco a pouco meu equilíbrio e numa manhã de ressaca não me surpreendi de ter acordado sem ela presa no meu pescoço. Depois disso fui me segurando, restaurando como podia, mas não há um instante que eu não sinta falta, quando percebo que não há mais semente... Não há mais nada que eu possa pedir um pouco de restauração além de mim mesmo! Acho que é por isso que vivo cantando, a música sempre salva alguma coisa!

Estou fatigado de tanto introspecção. Fatigado de tanto desejar algo num último gole de destilado. O único desejo que me resta é ficar aqui esperando a música, oh! A música sempre acaba.
Não importa quanto tempo você repita o último refrão... Não importa se está no "repeat" uma hora a música sempre acaba terminando.
Todos nós, feitos de carne e regidos por compassos inanimados... Brindando pelas causas perdidas, olhando o céu atrás de um estrela guia... Pedindo mesmo que internamente para sermos salvos de alguma forma. Todos, todos... nós! Brilhando em constelações musicais feito poeira perdida nos cosmos.


Cantando e cantando para sermos salvos e de algum modo  sempre seremos!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sonho Felino


Quero viver como os gatos vivem!

Solto na noite com olhos brilhando, bicho noturno da vida. Quero ser filho de mãe felina, novelo de lã de cada emoção...

Quero caçar ratos em plena avenida, me aventurar na boca de cada bueiro. Ter olfato aguçado, tomar um banho lambido em cada estação...

Quero um namoro felino, sem compromisso, motivo de cio invés de coração! Quero a irresponsabilidade do instinto...

Quero soneca em sofá da sala, quero cair em sete vidas. Ter pelugem castanha bege, acinzentada.... Quero ser gato de rua, caçada noturna miando, miando pra lua...

Quero saltar pelas ruelas, fugir de cadelas escalando pela Avenida São João...

Vivendo assim como os gatos vivem... Solto em qualquer quarteirão!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ela...


Ela é como um sorriso há muito tempo esquecido, alucinado que sai pelo canto da boca... Igual a uma fantasia que chega sem querer.
Ela tem a graça de tantos filmes de comédia que não assisti.

È meu abraço incontestável num dia frio, a companhia simples do sentido de compreensão que sempre esperei.

Ela é minha platéia mesmo quando todos os assentos estão vagos. Meus olhos de equilíbrio quando esqueço a última deixa... E quando sinto os tomates se despedaçando na minha face, tenho certeza que ela vai me aplaudir...

Ela...

Tão brilhante feito as estrelas. Tão aromática como uma flor do campo celeste.
Ela estranha como anjos, parecida com o paraíso! Merecedora de todo meu afeto. Meu nascer do sol de esperança, minha noite cálida aconchegante... Meu êxtase de inspiração!

Ela, só ela...
E é somente dela...
Meu grande amor.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Como Pode Haver?


Eu ainda me pergunto como depois tantos pedaços caídos. Tantas formas desiludidas e tantos motivos quebrados. Ainda possa haver coração batendo?
São tantos tiros de artilharia pesada, tantos buracos no corpo e ainda sim, algo bate?
São tantas desanimações modelos, e projetos de romance que sequer saíram do papel, mas a estrutura ainda está fixa e erguida... Por que?

Mesmo depois ser resumido a migalhas, nacos, ticos e enfim coisa nenhuma, ainda corre sangue?
Eu ainda me pergunto como depois de tantas falsas esperanças , de tantos falsos palpites ainda exista um fulgor!

Foram tantas lâmpadas apagadas e lanternas que perderam a pilha e mesmo assim ainda pode-se dizer que algo brilha... Por que?
Se nada mais vale a pena de que pena se arraste!
Depois tantas, tantas, desilusões como pode ainda o mesmo peito ansiar a mesma origem que causou dor!

sábado, 23 de janeiro de 2010

A chuva não para



Te despertas no alto da noite, a chuva cai, a chuva mata...
Te desperta sem querer como se não estivesse dormindo, todas as lâmpadas estão desligadas.
E o corredor dorme no silêncio...

A chuva não para de cair!

Todo o resto sobra, toda escada é cinza, todo céu desaba em estrelas...
E a chuva não para de cair!

Solidão acontece, circulando nos pequenos traços de fuligem. Desenhos de pó que acompanham a parede... Articulações pretas escorrem pelas frestas do telhado...
A casa sangra, a casa dorme! Resta apenas o que não foi dito, resta o que ainda acontece...

Na medida que a chuva não para de cair!

Os ratos morrem afogados na calçada, a água sobe pelas escadas... Passa por debaixo da porta, trazendo toda sujeira jogada fora... Tentam erguer os eletros domésticos, tentam tirar os cabos da tomada... Tentam se abrigar no telhado, mas a chuva não para de cair!

Todo colchão flutua, todo chão é sujo e todo corpo pode se afogar...
E a chuva ainda cai! E vai continuar a cair!

Te despertas no alto da noite, pois pode ser tarde..
A chuva não para! A chuva pode matar!