domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre presentes e cláusulas.


Sinto como se o mundo parasse diante meus olhos. O céu vive em azul claro, as nuvens oscilam como mancha da tela natural do grande universo. Cada traço presente na atmosfera faz parte do meu presente. Cada detalhe no alto das montanhas, cada gota presente de tinta viva faz parte do meu quadro.
O primeiro presente que recebi veio sem caixa ou fita adesiva.

Tinha detalhes estranhos e um brilho intenso. Veio bem antes de eu saber qualquer definição de presente. Ele me foi dado por um desconhecido, entregue de mão limpa numa sala de operação. A primeira coisa que fiz foi chorar. E ali tive meu primeiro contato com as funções que haviam em meu presente. As cores eram muito fortes no principio e som que tudo aquilo imitia era confuso demais para os meus ouvidos. Sem saber como desfrutar do presente apenas o embrulhei em mim e fechei os olhos. Ali descobri mais uma coisa nova sobre aquele presente, era aconchegante mesmo se sentindo inseguro.

Com tempo aprendi que meu presente era notável, cheio de perspectivas que ainda sim me cativavam dia após dia. Era interminável dividido em horas que me traziam o despertar de vários gostos. Mas houve um tempo que esse presente só me trouxe lágrimas, e essa foi uma das vezes que quase tentei me desfazer de todo aquele presente. Porém achei melhor guarda-lo no ponto mais baixo do guarda roupa, abandonei todo meu presente ali. Abandonei porque eu o odiei . Odiei porque não veio com clausulas de uso. Simplesmente me foi atirado num dia treze qualquer. Sem cartão de felicitações, ou remetente de envio.
Ganhei meu presente sem saber que ele iria me tirar todos os entes queridos, então aprendi seu preço . Aprendi que para cada ganho haveria um voto de tristeza. Sempre me fazendo optar em abandonar o presente em algum lugar. Então tive medo de compartilhar meu presente com os outros. Até que veio ela, tinha o mesmo presente que o meu. Tinha gosto por ele e simplesmente não ligava para clausulas invisíveis. Simplesmente aproveitava o presente dado por aquele desconhecido com todas as suas possibilidades. Não importava com nenhuma reação, desfrutava de todas as oportunidades e quando a tristeza chegava cultivava a alegria de lembrar os pontos positivos do presente. Ver ela! Notá-la me motivou a tirar o presente de dentro do guarda roupa e compartilhar uma vez mais, junto a ela. E assim eu aprendi que podíamos partilhar aquele presente com alguém que também quisesse partilhar conosco.


Dali em diante compreendi o objetivo desses presentes embrulhados em papel de hospital: Ser compartilhado com a pessoa que mexe com os teus olhos. Um presente compartilhado é sempre melhor do que um presente guardado.Nosso presente entretanto, foi esgotado, acho que isso faz parte das clausulas do remetente. Durável quando compartilhado e inesgotável pra você mesmo.
È o limbo de cada presente. Na verdade não passa de um “upgrade” vindo de fabrica. Quando você compartilha o seu presente com a pessoa errada ele volta drasticamente defeituoso. E não há assistência técnica que resolva. Trocam os fios, moldam o visor mais aquele defeito sempre permanece de alguma maneira. Consegui restaurar meu presente, lixei suas bordas acrescentei uma nova pintura e refiz todas as ligações eletrônicas. Meu presente ficou assim meio desgastado meio enfadonho por algum tempo. No entanto ainda tinha meu presente e decidido assim comecei a aproveitá-lo como se ele estivesse inteiro. Subi as escadas e mostrei a ele diante todos... E orgulhoso disse:

—Meu presente é isso! O sol brilhando em cores de despedida. A noite linda e calorosa. O comecinho da manhã intocada pelo dia. Quem quiser pode desfrutar do que brilha no meu visor. Quem quiser pode vir brincar junto e celebrar a vida. Quem quiser pode desfrutar desse presente meu! Desse céu de setembro. E quem tiver um presente parecido, por favor, me empreste e vamos dividir a brincadeira e fazer uma junção! E brincar... Brincar de existir.


Um comentário:

Luiza Callafange disse...

Que presente bonito esse :) aqui eu também tenho um, de várias cores, depende de como o dia quiser amanhecer.