segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A rua e o vômito

Subo a rua aos cacos, olho o sereno tomar conta do caminho. Que horas? Tento refletir com o pouco que me resta de vontade. Minha mente roda e logo vejo o céu fechado. O silêncio da noite me absorve só o que resta entre as casas são os latidos mortos dos cães presos... Uivando para a grande colina. Certos lugares me lembram ela, mesmo que jamais estivemos juntos nesses lugares eles ainda guardam esse resíduo de paixão vomitada. Essa coisa sai da gente, retira todos os órgãos pela boca e nos deixa com um contentamento de solidão.

Eu ainda guardo resíduos da minha apresentação, ainda tenho na face maquiada, sombra preta e um nariz pintado. Função certa para o divertimento alheio. Minha alma é livre no palco, o personagem contenta toda a minha indignidade melancólica, eu passo a vida assim... Dividindo cena com desconhecidos, algumas fincam em mim, outras partem tudo... Desaparecem sem ao menos dizer adeus. Não posso reclamar quanto a isso. Coisa que a gente vai relevando... Se não a vida fica miserável. "Servir bem para servir sempre".

Recado do pão nosso recortado da ação social do dia a dia.

O resto à gente pega a chave, olha para rua de baixo e espanta os cães. lamenta por sempre se sentir lamentado. Lamenta por vomitar o que já está vomitado.
O vômito não precisa ser necessariamente a erupção interna de alimentos mastigados. Às vezes você só precisa subir numa cadeira e improvisar textos que um dia farão parte de alguma citação. As vezes você pega um violão desalinhado e faz uma música. Às vezes...

Eu não sou como a maioria e isso me assombra. Não me agarro a amores que não fazem bater o tempo. Não fico com alguém para inibir solidão. Em toda minha vida amei por ser verdadeiro, por acontecer gritando, por evolver os braços nunca gastando um eu te amo cumprimentado. Sempre vivi de sonhos. E quando eles foram vomitados... Desfiz tudo que eu tinha de certo.

A sociedade transforma você em calculo, transforma determinação em percentualidade. Vomitam consumo até que não tenha mais nada para vomitar. O capitalismo é uma puta vomitada no mundo, consumindo todos nossos princípios. Consumindo o que realmente nos faz especiais. Colecionando cabeças, fazendo funções idiotas para definir crescimentos globais. E ninguém se pergunta o que é necessário!

"O que é necessário?"

Eu não quero saber... Afinal pra que saber de coisas tão difíceis de pensar. Pra que pensar num filho da puta que fica pedindo esmola num ônibus. Convenhamos que ele poderia arranjar a porra de um emprego, mesmo não fazendo parte de uma classe média alta para adquirir aquilo que os gerentes engravatados chamam de "formação curricular". Eu me esqueci, temos o lixo do ensino público! Professores amargurados que recebem um pouco mais que uma de um salário mínimo para ensinar que somos brasileiros e temos mesmo é que tomar no cú! Afinal isso é democracia:

Você elege um desdentado filho de um corno paraibano que rouba nossas cotas públicas para passar um feriado em Copacabana.( O ciclo interminável da "tomanssa" de rabo).
E todo mundo segue a vida e todo mundo pagas as contas e todo mundo vive! Alguns sem acupuntura aos sábados, outros sem clinica de estética para emagrecer sem bulimia. Alguns até vivem e se esquecem que estão vivendo! Somando o débito automático, recebendo flores por estarem no alto da cadeia social.

Eles palitam os dentes, são sustentados pelos pais.... Fazem cursinho na Anglo. Compram Mc Fuck aos domingos. Estudam para passar em medicina, mas no fim enfiam juramento de Hipocrates na bunda de cada tiazinha na fila do SUDS.
Eu vomito hipocrisia na rua... Vomito palavrões sem pretensão que meu vômito seja forçado.

Vomito o que meus olhos sentem e o que minha alma chora... Meu vômito é vômito de ônibus. Aqueles que impregnam cheiro azedo que afastam passageiros da zona de conforto. Eu vomito minha realidade. Meu instante vomitado aqui no meio da rua.

Um comentário:

Luiza Callafange disse...

Isso foi nojento...E repugnante. Infelizmente, realidade. Também vomito assim, e quer saber? Minha garganta dói.