quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Feito Criança Ao Acordar


As vezes eu fico triste assim como um pingo de sal em algo doce. As vezes tudo não passa de um balde de brinquedos confusos, quebra cabeças com tanques e nave espaciais. As vezes a vida fica sem graça sem ninguém pra brincar de pega-pega. As vezes você sobe para o recreio mas esquece o lanche e o pior é que ninguém quer repartir.
As vezes a tia briga com você e você só queria ir no banheiro por se sentir apertado. Daí você acaba fazendo nas calças, todo mundo te olha e você se sente urinado feito criança perdida no meio da rua.

Sua mãe te bate, seu colega te bate... O mundo inteiro só quer saber de espancar.
E não tem essa de conselho tutelar, ou de carinho na nuca. Todo mundo só inventa de punir dizendo que é coisa de malcriado. Coisa de menino do cão.
Jogam-te chinelos, puxam seu cabelo. Arranham teu braço e te esfolam com a espada de são Jorge.

As vezes você tem cincos anos, as vezes cinco mais três.
E aprende a engolir o choro que nem gente grande... Igualzinho a gente grande....

Crescendo hematomas. Crescendo castelos de areia desmanchados pela onda. Crescendo olhos cristalinos perto mar. Até não restar mais infância.

As vezes é sua namorada ou sua mãe te dando sermão por esquecer as coisas. Ensinam-te uma postura. Mas ninguém pode te ensinar a amar. Ao contrário te ensinam a ser forte a esquecer rápido a parar de ser tão emocional.

Feito criança ao acordar...

Feito criança ao acordar!!!

Um comentário:

Luiza Callafange disse...

Eu definitivamente não fui esse tipo de criança...
Mas infelizmente é só o que vemos mundo afora.
Esse seu texto me lembrou muito minhas aulas sobre Classe Hospitalar...os casos e os exemplos que a minha professora conta
A criança está lá na dela, e não entende porque a mãe vem toda hora colocar a mão em sua testa, cada vez mais desesperada, e não entende porque tem que parar de brincar para ir para um lugar estranho com pessoas estranhas que só farão ela sentir dor...E não entende porque na hora que ela sempre toma o leite não pode comer ou tem que comer outra coisa...
Há também algumas histórias de crianças que foram tão bem atendidas nos hospitais - sejam por médicos, pedagogos, psicólogos, enfermeiros... - que não querem ir embora, porque se sentem mais bem tratados dentro do hospital do que lá fora.
Lá dentro, não tem o pai/padrasto/tio que bate e/ou que abusa e viola seu corpo;
Lá dentro não tem pessoas para gritar e menosprezar ninguém;

...Complicado, não?
Que mundo é esse em que vivemos, quando criaças preferem um hospital do que o próprio mundo em que vivem?