segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Paliativo (Abandono)


Cotovelos estendidos numa mesa, o reflexo das sobras de um suposto jantar. As janelas são feitas de plástico condenado. Condenam em retângulos retos a vida das ruas que meus olhos não enxergam. Minhas costas se cruzam na cadeira, meu pulso está firme e logo bafejo o sono...
“Ela se foi...”

Tomou o barco na noite escura, deixou suas marcas escondidas pela casa, traços em meu coração! Uma musica que ausenta o silêncio, os recortes de jornais passados, rascunhos mal desenhados de uma história sem meio, imposta e composta em meus dias maus somados!

"Ela se foi...”

E não deixou vestígios de volta, recolheu suas tralhas e no fim se esqueceu de desligar a luz...

Minha casa vazia, ausente de claridade.... Estou hojeesperando que alguém me empreste velas, para que enfim possa enxergar meu reflexo outra vez!

Hoje, desencantado hoje! desfalecido agora!
Gostaria de dizer sinto muito, pelo menos iria sentir algo além dessa incoerente inconstância.
“Ela se foi...”
E não posso dizer o quanto sua imaginável presença me trazia conforto!

Não limpei minha alma desde então.
O tapete permanece bem ali, ao lado da mesa com as manchas de vinho adormecidas de um natal caloroso. Os retratos ainda estão no quarto a beira da cama. Trazendo-me a lembrança que tive sonhos uma vez realizados. Que vivi uma vida fora dos relâmpagos que acostumei observar. As cartas amontoam na varanda, esperando alguma resposta. Mas de respostas eu não entendo nada!

Sempre me disseram que a crueldade está nos sonhos, hoje eu consigo percebe-la no vazio dos corredores. Sonhos vulgarizam nossa realidade, provando que momentos que tivemos, momentos especiais e raros, jamais serão os mesmos. E que depois disso nada mais terá o mesmo valor.

Meu café da manhã agora é sem companhia, e o jardim o qual observei foi tomado por ervas daninhas. Agora! Sem mais flores... Sem mais brilho... Sem mais em ti!
Meu chá ficou amargo, minha manhã fria, meu lugar inerte . Sento-me só todos dias na varanda para que enfim possa ouvir outras vozes a não ser as minhas.

Sim! "Ela se foi..." E sequer mediu os preceitos, sequer pediu minha opinião.... Ou disse adeus. Ela apenas foi embora me esquecendo aqui!

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