quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Chuvisco de imortalidade

O asfalto tinha cheiro de chuva passada, de vapor que subia calmamente anunciando que outrora havia chovido. Queria fazer parte daquele céu castanho, tempestuoso como o que brotara em meu peito. Eu sabia que por mais que andasse naquele asfalto molhado meus anseios ainda seriam levados por aquele bueiro. Assim como a pequena correnteza que restava das gotas pesadas do que havia chovido. Córregos carregando minhas esperanças, córregos que iriam sem mim... Banhados pela água da chuva. Não importa quantos amores eu carregasse, ainda amaria sozinho.. Não importa quantas perspectivas de passos eu caminhasse ainda daria voltas no mesmo lugar. Minha ira, minha exaltação trovejava no horizonte.

Enquanto eu olhava dentro dos olhos daquelas pessoas. Expostas na garoa destilavam álcool pelo olhar. Consagravam minha amargura com sorrisos e música estrondosa. Música que virou trilha sonora de tantas marcas que residiam tatuadas em mim. Sem forma ou imagem, me acompanhavam como estampa incolor. Fantasmas que não aparentavam assombração, seguiam meus passos atravessando poças. Eu poderia morrer ali... Seria meu ponto de fuga para as desavenças de tempestade que cravei em vida. Seria o ponto das memórias simples de garoas passageiras: chuvisco de imortalidade... Enquanto chovesse eu poderia morrer, e partiria em paz.

Deixando minha recordação naquelas gotas pesadas.
Viveria no gole da seca, no cheiro de chuva quando toca o capim, chuva de asfalto... Nos cortes do céu: relâmpagos. Trovões que em cojunto com as águas fariam parte de mim.
Seria eu só enquanto restasse aquele temporal.... Até a calmaria das gotas...
Até que restasse chuva no céu... Até a chuva cair, somente enquanto a chuva cair.

Um comentário:

Lua disse...

É incrível a sensação que nos proporciona essas misteriosas gotas aromáticas que caem no asfalto... Muito bonito o texto.
Texto para refletir.

Abraço!