sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quando um poeta morre...


Eu escrevi este texto enquanto escutava "The Scientist" caso alguém queira ter a mesma perspectiva que eu tive. Deixo aqui a dica, escute "The Scientist" enquanto lêem o texto! http://www.youtube.com/watch?v=tmjPrdTNxQ0 ).
Bom texto!
Cléber.

Segurei sua mão enquanto os teus lábios se mexiam... Eu puxei você até meus braços, enquanto minha pulsação disparava em sentimentos nostálgicos... Acariciei o teu rosto pequeno, me fazendo a mesma pergunta sobre o que é mesmo isso que respiramos como fragrância de viver... Meus lábios ainda borrifavam vinho, meus olhos queriam os teus olhos! E a mesma voz eclodiu na minha mente, enquanto meus tímpanos eram então estourados outra vez!

As palavras me marcaram como fogo, tatuando no meu corpo o coração em cacos que sempre encobri com poesias de acalanto próximo.
Uma frase para perder a vida
—Não posso!

Uma frase para me fazer sentir embaraçado...
—Não posso!

Aquilo percorria todo o silêncio do meu intimo, olhei no espelho e me senti corcunda na torre mais alta. Sozinho e cheio de histórias tristes pra contar! O tom de feiúra me surgiu em reflexo. E então a idéia de ser maldito refletiu na água que saia da torneira... Aquele capitulo de morrer sozinho e sem amor nenhum... Cercado e sozinho, longe de casa de novo! No meio da multidão levando os cacos de uma vida inteira. A face morna se esquenta, é a lagrima de Pierrot outra vez! Ela escorrega sem querer, e agora embaça os meus olhos de vidro!

“Desculpe se achei que aquilo fosse o inicio de um beijo! Desculpe, por não saber mais ser romântico! E por reconhecer em você amor“

Me despeço, mentalmente enquanto entro no ônibus! Minhas palavras ainda estão reprimidas, me sinto como vapor que cessa enquanto a fogueira recebe água fria... Eu sei! E também desconfio que ela também saiba... Algo meu vai ficar ali enraizada nas paginas do livro... Escondido na contra capa que colei com fita adesiva minusculamente como presente de aniversário, amor para ela, amor para nos dois.
Eu não disse nada! Porque o que é dito nunca se cala e permanece numa espécie de receptáculo, apontando diretamente para o que circula em nosso espírito. Quando alma aparenta estar perdida, simplesmente revive gerando expectativa de uma coisa nova cheia de asfalto e montes verdes.
Aos poucos o motor ronca, e a paisagem vai se soltando na janela, ela acena tchau! Eu apenas pisco em sinal de afeição. Meu coração desmorona por alguma coisa que nem eu sei o que é direito. A sina “ônibus-estrada” se repete... O veiculo cruza a ponte, o rio se ajeita... Talvez seja a última vez que vejo o rastro daquele rio, o vento leva uma poeira acastanhada... Castanho igual olhos dela. Escuto aquela voz dizendo: —Que foi? Que foi?
Não agüento mais pensar na estrada, ela me lembra um passado de quase três anos... Algo que me faz ter certa infelicidade na experiência... Abro mais uma pagina de “on the road”. Queria ser como Jack Kerouac, queria atravessar os estados sem ligar para os meus cacos de apego. Isso me falta, não é amor...
Não é a desilusão de um chute! Não são os olhos castanhos de alguém que me apaixonei sem querer! È a vida na estrada, é conhecer vagabundos... E ter o que escrever, é encher a cara de vinho e acordar no Paraná. Sem saber o meu nome ou como era minha vida antes disso... Esquecer dessa alma inútil de Pierrot, esquecer que meu nariz é grande demais e meu cabelo desajustado demais. Ser igual ao Kerouac é: Parar de sentir repulsa do espelho, ou ficar se sentindo culpado por sempre perder alguém. È passar fome por não ter o que comer, é ver a morte de um rapaz que sonha e o parto de um verdadeiro escritor que chega... Que enlaça o seu povo no cromossomo mais intimo! È ter sede de gente... È ter um motivo para não se sentir um desgraçado por ser simplesmente rejeitado! Eu queria ser como Jack! Queria comer tortas no caminho de Denver, tomar whisky num caminhão em movimento na tentativa de se esquentar... Queria ser um Beat!
Eu vejo meu Strawberry Field da janela, meu lugar favorito em todo mundo! Algo que me faz sentir bem, mesmo que ainda a responsabilidade de ser alguém me deixe vazio... Ali eu sinto que sou muito mais. Que ainda sou! Que ainda vou ser aquilo que posso ser... Aquilo que sou.. Eu! Me sinto bem em estar de volta a cidade dos caquis e dos ipês amarelos. A estrada fica pra trás, estou na cidade. De volta ao lar! O bom filho a casa torna! Ou seja lá o que querem dizer com isso!

Olho para moça que está do meu lado, ela dorme um sono que dá vontade de fotografar! O vento traz de volta as cinzas das quatro. Eu ainda estou com aqueles olhos dentro de mim...(vou dormir pensando naqueles olhos!).
Um sorriso me vem na face quando cruzo a passarela. O barulho do trem passando embaixo dos meus pés é assustador! Meio assustado e meio abatido eu ainda consigo soltar um sorriso! Eu sei que isso vem dela, eu sei que to sentindo saudade e na manhã seguinte vou sentir mais... Eu também sei depois de uma noite isso acaba! Termina virando morfina solta na madrugada.... E daí eu não vou sentir mais nada! Não vou ter mais acesso a sentimento nenhum. E isso me causa medo! Porque no fundo eu sei, que cada vez mais algo me força a parar de sentir!
Uma forma nebulosa de máscara negra, realidade de adaptação que vem como anti-gripal para cessar o pesar, para voltar a seguir a rotina. A forma nebulosa ri alto, nunca diz nada,mas eu compreendo o significado... Sem esse "que" de coração, eu seria mais repleto de frieza... Conquistaria mais, e não andaria pensando em nada. Seria um funcionário público, seria um mercador famoso, um bancário orgulhoso e perderia a essência mãe que fui criado!
Quando essa máscara negra me absorver completamente, quando enfim eu parar de sentir! Quando a atmosfera daqueles olhos castanhos sumir... Quando parar de inventar musas e toda gota de afeto desaparecer! Todo sentimento que prezo vai acabar. E sem esse tipo de sentimento não haverá mais folha ou caneta de tinta azul manchando meus dedos... Não haverá crença em mais nada... O homem nasce o poeta morre!

E todo texto é jogado na fogueira, a essência acumulada, o som de violinos a literatura de penas é manchada... Eu não vou saber o quanto de mim restou. Quantas batidas no peito, quantas cartas dedicadas, quantos poesias escritas... Desperdiçadas, como os sentimentos que se findou...
Nasce o homem, morre o desperdiçador!

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Glossário:
Pierrot: Variação francesa do palhaço triste, apaixonado pela Colombina, que inevitavelmente lhe parte o coração e o deixa pelo Arlequim. Uma de suas características é a lágrima no rosto.
Receptáculo: Lugar onde se reúnem coisas provenientes de diferentes origens.
Jack Kerouac: Autor estadunidense do romance On the Road (pé na estrada) responsáveis por uma das maiores revoluções culturais do secu XX. Percussor da geração Beat.
Strawberry Field: “Strawberry Fields Forever” Na verdade é uma canção dos Beatles Composta por John Lennon e creditada a dupla John Lennon-McCartney. A gravação foi realizada no período de 24 de novembro a 22 de dezembro de 1966. Diz a história que Strawberry Field (Campos de morango) era um lugar onde o exército da salvação fazia quermesses em Liverpool onde John Lennon ia quando criança. Esse é ponto filosófico da música Strawberry Field pode ser tanto um lugar,um objeto e até uma pessoa... Onde recorremos quando estamos mal, onde passamos bons momentos e lá nada importa tudo é perfeito!

4 comentários:

Luiza Callafange disse...

Sem palavras...Prefiro deixar meu silêncio. O que paira nele? Nostalgia, talvez?

Luciane Recieri disse...

Quando um poeta morre, nasce de novo e morre outras mil vezes e torna a nascer mais mil. É como grão que cai em terra fértil; é como grão que cai no asfalto. Enquanto terra fértil canta louvores; enquanto aridez é partida e lágrima. Só quero lhe dizer que mil vezes acordei morta e outras tantas ressuscitei com o sol na cara. Sei que meu destino é deixar cair sementes à beira da estrada para os desavisados e sei que talvez este seja o seu. Sementes ou cigarras, como preferir, enterradas até que se rompa o segredo e deixemos o escuro para a luz duvidosa do que vulgarmente deriva o amor. Obrigada por me iluminar. Lindíssimo texto. Abraço.

Unknown disse...

Ahhhhh :(

por que faz isso chuchu ? me deixa com os olhos cheios de água... li muitos textos semelhantes à esse, mas realmente esse ficou muito bom... sem enrolação, sem ser melado de romance e drama, muito bom msm, òtimo! Parabéns, cada vez melhor!

Kaio Govêa disse...

Quando vamos sair pra beber de semana?