quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Parestesia %2


Escrevo estas linhas na escuridão que me deixou com tua resposta. Registro essas letras com o vazio que atormenta meu estômago. Passei todo esse tempo suprido por calmantes que induzem uma inconsciência. Meus olhos guardam estigmas de insônia, e meu leito mantêm o calor do inferno. Mas de tudo, o que mais sinto é essa chuva que dissolve toda minha desgraça. Eu não quero entender como dilacerou meus sonhos de amor pleno, ou como me fez em migalhas arremessadas à praça para que os pombos pudessem aliviar teu consolo. Eu fui sua peça substituída, seu retrato quebrado, os cacos do espelho que se partiram. Meu sangue coagulou em teus olhos, minha alma fixou em teu peito cicatrizado. Me pergunto então quais foram os motivos de tudo isso. Como pude sentir o escarro em lábios nos quais delirava em beijos? Mesmo sem querer fui obrigado a rasgar as fotos, queimar nossos presentes e tampar meus ouvidos para vida. Eu perdi tudo o que acreditava, quando li nos espaçamentos de seu diário a palavra tempo. Fui sendo despojado com o vazio de seu despejo. E quando a última esperança derramou em meu peito, os fatos comprovaram que meus valores foram eliminados um por um. Sei que enquanto vagava pela rua embriagado de tristeza, você esbanjava nossas palavras com outra pessoa.Tirou-me dos teus braços, através de outros abraços. E me forçou a enxergar isso de perto, a observar que já não existia em tuas palavras. Que eu não valia mais em tuas cerimônias. Que era apenas um pouco de pó acumulado na prateleira dos fundos. Nada se resta e nada se compõe. Se não em mim. Sinto-me culpado, humilhado por todo esse sentimento que ainda persiste. Sinto-me humilhado por saber que por toda minha respiração, eu ainda tenha você como principal oxigênio. Que de todos os cabelos longos que observo é o teu cheiro que dilacera minha carne. Meu ódio mescla á esse pseudo amor e meu âmago reage quando limito meus olhos a te observar. Jamais serei este seu. Jamais serei aquele que segurará a tua mão. Jamais serei a boca que toca a sua. Jamais serei êxtase desejado por seu peito enquanto transpira de paixão.O que me resta é deitar naquela cama e induzir o sono. Transformar-me em morfina até que não reste mais nada de mim e de você. Até que não sobre nada dessa inacabável parestesia.

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